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28 setembro, 2011

CNJ na berlinda - leitura dinâmica



 Manchete no Globo e no Estadão, a provável restrição ao poder de investigação e punição a magistrados pelo CNJ, pauta de hoje no STF, foi analisada em dois excelentes artigos, um publicado hoje mesmo, em O Globo, e outro há um mês, na Folha ( ao final, abaixo).
Já no Observatório da Imprensa (O debate tardio na imprensa) , Luciano Martins Costa lamenta a falta de cobertura mais aprofundada e há mais tempo da crise instalada no Judiciário em decorrência da divergência de posições.  É elucidador ao tratar da indignação do presidente do CNJ e do STF com  trecho da entrevista da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, à Associação Paulista de Jornais:
 A frase do ministro Peluso, segundo o qual a acusação da corregedora-geral ofende a idoneidade e a dignidade de todos os magistrados, é apenas retórica. Como sabem os jornalistas, o excesso retórico é sintoma de desonestidade intelectual e esse é apenas um dos problemas na cobertura da maior crise de que se tem notícia no sistema judiciário.
A íntegra da entrevista havia sido reproduzida no Blog do Fred (Interesse Público), editado pelo  jornalista Frederico Vasconcelos, da Folha de São Paulo, que inclusive  entrevistara recentemente a  corregedora nacional na TV UOL e onde aspectos da polêmica vem sendo discutidos há tempos. Curiosamente, desde ontem não consigo acessar o blog, talvez por excesso de demanda. Os posts de ontem podem ser lidos, alternativamente, no portal do próprio CNJ, assim como a cobertura dos jornais de hoje .



O GLOBO | OPINIÃO (7),  28 de Setembro de 2011.


O dano está feito

JOAQUIM FALCÃO

O dano está feito. De repente o Judiciário mudou sua pauta. Em vez de combater o nepotismo, extinguir adicionais salariais, estabelecer metas de desempenho, implantar digitalização e estimular a conciliação, a pauta é outra. É aumento de salários, brigas públicas, judicialização de conflitos internos. É incrível a capacidade do Judiciário de destruir sua legitimidade. De abalar a confiança dos cidadãos. Durante mais de 15 anos, impacientes com o nepotismo e a lentidão, a sociedade, o Executivo e o Congresso defenderam o controle externo do Poder Judiciário.

20 junho, 2011

O não empréstimo da CELG: a exata medida


 A mídia goiana segue sem conseguir contextualizar a dimensão que teve o fato de não ter sido concretizado o empréstimo à CELG, no ano passado.

Mas nem precisa: é só ler a matéria que o Valor Econômico publicou em fevereiro sobre o aumento do endividamento de Estados e municípios em 2009 e 2010, para fugir da queda de arrecadação devido à crise financeira internacional.

A matéria considerou erroneamente que o empréstimo fora feito (quem imaginaria que não?) e dá a devida medida, ao permitir compará-lo aos que foram concedidos a outros Estados e algumas prefeituras. 

Entre 2009 e 2010, houve um crescimento de 215% nos empréstimos, que chegaram a R$ 18,77 bilhões, dos quais caberiam à CELG R$ 3,728 bilhões, ou  20%. Seria mais que qualquer Estado ou município conseguiu, quase 4 vezes o valor obtido por Minas Gerais, por exemplo. 

Imagine-se a complexidade da operação necessária para se dispor desse montante de recursos em caixa na data prevista para a liberação e, na outra ponta, para deslocá-los quando o empréstimo não se efetivou.

 Contas públicas: Operações de crédito em 2009 e 2010 atingem R$ 18,77 bi

  Em 2 anos, dívidas de Estados e municípios crescem 215%

Ribamar Oliveira | De Brasília
06/02/2011



As operações de crédito realizadas por governos estaduais e prefeituras em 2009 e em 2010, com autorização do Ministério da Fazenda e do Senado Federal, bateram recorde e atingiram R$ 18,77 bilhões, com um crescimento de 215% em relação aos dois anos anteriores, quando ficaram em R$ 5,96 bilhões, de acordo com dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

O aumento do endividamento e a queda da receita tributária em decorrência da crise financeira internacional são os motivos principais para os Estados e municípios não terem alcançado as metas de superávit primário nos últimos dois anos, segundo análise feita por fontes da área econômica. O superávit é a economia que o setor público faz para pagar parte das despesas com juros das dívidas.


Com os recursos dos empréstimos, os governadores e prefeitos fizeram obras, o que prejudicou a obtenção da meta fiscal. Pela metodologia de cálculo do superávit, uma despesa, mesmo sendo investimento, é computada como déficit.

A queda da receita tributária em 2009, em decorrência da recessão econômica, reduziu os pagamentos dos Estados e municípios à União por conta dos contratos de renegociação das dívidas. A resolução 43/2001 do Senado determina que esses pagamentos não podem exceder a 11,5% da receita corrente líquida. Como a receita líquida diminuiu em 2009, os pagamentos também caíram.

O superávit primário dos Estados e municípios é estimado pelo governo federal, todo ano, em 0,95% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa projeção é feita com base nos pagamentos que eles são obrigados a fazer por força dos contratos de renegociação de seus débitos com a União. Mas, nos últimos dois anos, essa estimativa não se concretizou.

Em 2009, o superávit primário ficou em 0,75% do PIB, segundo o Banco Central, computados nesse resultado o saldo das empresas estaduais e municipais - o descumprimento da meta foi, portanto, de 0,2 ponto percentual do PIB. Naquele ano, o que mais pesou foi a queda da arrecadação.

Em 2010, mesmo com a recuperação das receitas tributárias, principalmente a do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o esforço fiscal dos Estados e municípios piorou. Segundo o Banco Central, o superávit primário obtido por essas unidades da federação no ano passado foi de 0,64% do PIB - uma queda de 0,31 ponto percentual em relação à meta.

A explicação é que governadores e prefeitos gastaram muito. Além da receita tributária maior, eles utilizaram os recursos obtidos com as operações de crédito para ampliar os gastos. Não foi, portanto, apenas o governo federal que gastou muito no ano eleitoral. Os Estados e municípios seguiram o mesmo caminho.

A crise financeira internacional de 2008 provocou uma recessão no Brasil e em algumas das principais economias do mundo. Por conta da menor atividade econômica, as receitas tributárias desabaram em 2009. Para compensar os Estados e municípios, o governo federal aumentou as suas transferências e facilitou a obtenção de empréstimos por parte dos governos estaduais e prefeituras, antes muito rígidas.

Para isso, o governo Lula criou o Programa Emergencial de Financiamento dos Estados (PEF). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi autorizado a conceder empréstimos destinados a investimentos. Os recursos repassados aos Estados não poderiam financiar despesas correntes. No início, o limite dessas operações foi de R$ 4 bilhões. Em outubro de 2009, por meio da resolução 3.794, o Conselho Monetário Nacional (CMN) ampliou o limite em mais R$ 6 bilhões.

12 junho, 2011

Uma entrevista histórica: Marconi Perillo fala sobre o papel da oposição, Lula, Dilma, CELG e mais ao Valor Econômico

Fabiana Pulcineli registrou,  no Popular de ontem, declaração do governador Marconi Perillo de que torce pelo governo da presidenta Dilma Rousseff:


Ao comentar a troca de titulares na Casa Civil, após a crise envolvendo Antonio Palocci, o governador Marconi Perillo (PSDB) disse ontem que busca estabelecer diálogo com o governo federal e torce pela gestão da presidente Dilma Rousseff. "Da nossa parte, continuaremos torcendo para o sucesso do governo da presidente Dilma, porque o sucesso dela é o nosso também, é importante para todos nós brasileiros", disse, durante visita ao Centro de Reabilitação e Recuperação Dr. Henrique Santillo (Crer).

Marconi disse que o governo estadual tem feito sua parte na apresentação de projetos e na busca por boa relação com a União. "Estamos fazendo um governo de diálogo, sério, honesto, transparente, que tem como objetivo buscar os melhores resultados para Goiás. Um governo de diálogo com o governo federal, que tem dito o tempo todo que faz um governo republicano. Então, não temos dúvidas de que os canais de diálogo continuarão abertos."
O momento é perfeito para reler a entrevista concedida por Marconi ao Valor Econômico, após as eleições do ano passado, quando ainda estava no Senado. 

Salvo engano, foi o primeiro dos novos governadores eleitos a ser entrevistado pelo jornal, e  não há dúvida da razão para sua escolha:  sua eleição,  a despeito do empenho pessoal do presidente Lula em que fosse derrotado, como mostram a chamada, o título e o início da sua apresentação na matéria:
 

Entrevista: Governador eleito contra empenho do presidente aposta em entendimento com sucessora

"Dilma tem estilo completamente diferente do de Lula"


Um dos principais alvos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições estaduais deste ano foi o vice-presidente do Senado e governador eleito de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Para derrotá-lo, Lula subiu no palanque no Estado duas vezes durante a campanha, de onde classificou o tucano de mau-caráter, sem-palavra e desonesto, para ficar em alguns dos adjetivos utilizados. Também articulou, via Caixa Econômica Federal e Eletrobrás, um aporte financeiro de R$ 3,7 bilhões para sanar as Centrais Elétricas de Goiás (Celg), estatal que há anos vive situação pré-falimentar e cuja solução há tempos vira tema central das eleições goianas.
Discurso e dinheiro, porém, não foram suficientes para impedir o retorno de Perillo ao Palácio das Esmeraldas, que ocupou entre 1999 e 2006(...)

Abaixo, alguns trechos da entrevista, em que destaco, em especial, a definição do papel da oposição feita por Marconi. A matéria junta-se à coleção de matérias históricas disponibilizada pelo blog.

Entrevista ao Valor Econômico em 12.11.10


Valor: E qual deve ser o papel do partido [ PSDB, oposição]  no Congresso?
Perillo: O parlamento é a instância pra se fazer o debate democrático entre oposição e governo. O eleitor nos jogou na oposição e cabe a nós exercer o papel de fiscalizador e inclusive propositor de alternativas para o país, mas também de denunciador de eventuais mazelas, desvios corrupção e indícios de irregularidades. Parlamentar é "parlar". Cabe aqui o desafio de cobrar metas e compromissos que foram estabelecidos entre o candidato vencedor e a população, sugerir CPIs, denunciar, aprimorar a legislação, apontar saídas, fazer uma agenda para o país, inclusive paralela à agenda governamental.
(...)

Valor: O senhor vai receber a Celg praticamente federalizada, após um acerto entre governo estadual e federal feito às vésperas do segundo. Pretende manter o acordo?

Perillo: Solicitei à comissão de transição atenção especial à Celg e a esse contrato. Ninguém em Goiás tem conhecimento dos seus termos. O que foi apresentado à sociedade é muito genérico e superficial. Precisamos analisar todas as informações. Caso cheguemos à conclusão de que é lesivo aos interesses do Estado, vamos tomar providências administrativas e legais. Já fiz notificação ao governo federal e estadual sobre todas essas questões e elencando toda a legislação que pode responsabilizar agentes públicos em caso de quaisquer danos ao erário. Vai depender do que vamos nos deparar.

Valor: A forma e o tempo em que ele foi feito acha que foi mais um pacote do governo federal e do presidente Lula para derrotá-lo?

Perillo: O governo teve quatro anos para resolver essa questão. Lamento que quiseram resolver isso no apagar as luzes. De qualquer maneira, espero que tenham sido bem intencionados.
Valor: Os mais duros ataques do presidente Lula durante a campanha foi (sic) contra o senhor. De onde vem esse ódio e como o senhor recebeu os ataques?
Perillo: Na condição de chefe de Estado e da nação eu jamais me meteria em questiúnculas locais, domésticas. Presidente tem a função de ser o mais alto magistrado nacional e como chefe da nação ele deveria dar exemplo de compostura, comportamento político e cívico a todos os brasileiros, especialmente às crianças que significam o futuro do país. Lamento que isso não tenha acontecido. O presidente se apegou ao fato de eu ter levado ao conhecimento dele a informação de que estavam pedindo mesadas para parlamentares no primeiro mandato dele. Outro motivo foi o voto e o discurso que fiz contra a CPMF, quando o Senado votou sua derrubada.
Valor: Acha que esse ódio pode ser transferido para Dilma?
Perillo: São dois estilos completamente diferentes. Aliás, acho que ele vai sentir muita falta do poder. E a presidente Dilma vai ter que imprimir seu próprio estilo. Tenho consciência de que ela jamais se apegará a sentimentos mesquinhos no trato com a oposição, com os adversários. Uma coisa é ter um tratamento em relação a opositores, outra é transformá-los em inimigos pessoais. Isso não cabe nem na vida pessoal nem na política.


Leia a entrevista na íntegra aqui.

15 dezembro, 2010

Guerrilha do Araguaia: Saiu a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos

Ontem, a Corte Interamericana de Direitos Humanos tornou pública a sua histórica sentença no caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") Vs. Brasil.


 Trailer do filme Guerrilha do Araguaia: as Faces Ocultas da História, de 2007

O  Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM-RJ) e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo (CFMDP-SP) atuam na representação das vítimas e de seus familiares nesta ação. Em comunicado conjunto divulgado ontem à noite destacaram que (grifei):

A Corte Interamericana determinou que as vítimas do presente caso foram desaparecidas por agentes do Estado. A sentença estabelece que o Brasil violou o direito à justiça, no que se refere à obrigação internacional de investigar, processar e sancionar os responsáveis pelos desaparecimentos forçados em virtude da interpretação prevalecente da Lei de Anistia brasileira, a qual permitiu a total impunidade deste crimes por mais de 30 anos.

A Corte determinou que esta interpretação da Lei de Anistia, reafirmada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, contraria o Direito Internacional. Nas palavras da Corte: “As (aquelas) disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso (Araguaia)”.

Assim, a Corte requereu que o Estado remova todos os obstáculos práticos e jurídicos para a investigação dos crimes, esclarecimento da verdade e responsabilização dos envolvidos. Também, o Tribunal reafirmou o alcance geral de sua decisão exigindo que as disposições da Lei de Anistia, que impedem as investigações penais, não possa representar um obstáculo a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos.

Leia, abaixo, as íntegras do comunicado e da sentença.

Veja mais:
Vídeos do julgamento da Lei de Anistia pelo STF em 29.04.10

Vídeos do julgamento da Lei de Anistia pelo STF em 28.04.10
Voto do relator no julgamento da Lei de Anistia pelo STF
Discurso do Senador Pedro Simon, anterior ao julgamento
Mídia brasileira ocultava Caso Garzón?
Coletânea de artigos e declarações anteriores ao julgamento do processo no STF
Blog do filme Guerrilha do Araguaia: As Faces Ocultas da História
Comunicado Sentença Araguaia




sentença Araguaia CIDH

10 outubro, 2010

O apelo antiaborto, por um ex-líder arrependido da direita religiosa americana

O fundamentalismo entrou em campo na campanha eleitoral, mas ótimos artigos põem  as coisas em seu devido lugar. Por exemplo, Janio de Freitas , na Folha de hoje,   Maurício Stycer, sexta-feira, no UOL e ainda Elio Gaspari (relembrando o caso Lurian, da campanha de 89) , também na Folha . 
Aproveito para finalmente comentar  um artigo de junho do ano passado, que coloquei nas minhas referências no delicious (veja lista no canto direito da página). É de um arrependido ex-líder do movimento Pró-vida da direita americana,  autor de bestseller, assim como seu pai fora.  
O artigo foi escrito a propósito da violência desencadeada pelos pregadores dos movimentos fundamentalistas, que culminam em assassinatos como o que na véspera vitimara o Dr. George Tiller, um dos poucos médicos americanos que faziam abortos em casos de  gravidez já adiantada.  
É justamente este o ponto central  do artigo: o uso que o movimento faz das chocantes imagens de abortos deste tipo e a necessidade se regulamentar a prática de acordo com o desenvolvimento do feto, o que a decisão da Suprema Corte Roe v. Wade não admitiu. Traduzo um trecho (leia completo, no Huffington Post): 

Contribuir para um clima extremado e às vezes violento não tem sido um defeito apenas do movimento dos cruzados antiaborto. A decisão Roe versus Wade foi  muito longe , muito rápida e muito exagerada. Eu acredito que o aborto deveria ser legal. Mas eu também acredito que ele deveria ser re-regulamentado  de acordo com o desenvolvimento fetal. São os abortos tardios que horrorizam a maioria das pessoas.  E se quisermos manter o aborto legalizado é preciso fazer ajustes. A decisão Roe vai ao extremo no tudo ou nada  ( como eu explico em meu livro Louco por Deus : Como Eu Cresci Sendo um dos Eleitos, Ajudei a Fundar a Direita Religiosa e Vivi para Voltar atrás em Tudo - ou Quase Tudo). Conforme eu digo em meu livro,  hoje eu acredito que o aborto deve ser legal mas mais regulado que  Roe permite. Eu também acho que  nos deveríamos fazer o que o Presidente Obama defende: usar a educação sexual e a distribuição de contraceptivos e programas para ajudar as mulheres e as jovens de maneira que resulte em menos abortos. 
Mas a razão pela qual esta discussão nunca vai se encerrar  é que o julgado Roe foi uma decisão ampla que torna o aborto legal mesmo nas últimas semanas de gestação. Elimine as fotos de todos aqueles fetos tardios mortos  e tudo muda emocionalmente. A democracia e o debate público  estão bagunçados mas se o aborto tivesse sido discutido estado por estado o aborto seria legal em quase todos os nossos estados e provavelmente as leis teriam sido editadas mais parecidas com as da Europa, onde os abortos tardios (como aqueles nos quais o Dr. Tiller se especializou ) são ilegais e/ou altamente desencorajados. 

13 setembro, 2010

Irã, Honduras... Goiás !!! Aqui também o Twitter rompe a censura -atualizado

Já escrevi aqui sobre o uso das novas mídias para burlar a censura no Irã e à época do golpe,  em Honduras (aqui e aqui).



Devo confessar que pela minha experiência como blogueiro e leitor de blogues locais  não tinha muita esperança quanto ao mesmo acontecer tão cedo em Goiás. Vi que a coisa não seria tão fácil como acreditara em 2006.

Pois desde a semana passada me surpreendi com o Twitter. Tinha feito uma conta há tempos, mas estava inativa. Ativei no dia do debate dos candidatos a governador para saber se mais gente não estava conseguindo assistir pelo site do Popular e descobri que o problema não era só meu.

Continuei acessando e não é aqui também o Twitter está rompendo o bloqueio do silêncio?!

Experimente: acompanhe o @jornalx@altairtavares. Um  dois exemplos de hoje, do primeiro:

1 -  Acredite: a vontade de processar é tão grande de um governadoriável que tem até "carta do leitor" de um jornal sendo processada. Inédito.
2 - Colegas me avisam que eu posso ser processado por dizer que um governadoriável adora processar. Seria Kakfiano, não?

Atualização em 14.09 - A grande diferença em relação ao que acontece com os blogs locais é a  interação que o twitter permite.

Ao invés da solidão de raros 2, 3 comentários, no máximo, que são feitos nos  blogs, no twitter às vezes são dezenas de reproduções ou respostas aos tweets.

E ele ainda remete aos blogs, onde os assuntos são desenvolvidos em mais profundidade.


E não é que coincidentemente, esta madrugada foi publicado  artigo sobre ditaduras no  mundo e em Goiás no  blog Jornal X? Veja o título:



Eleições 2010
Marconi critica ditaduras de fora. E os ditadores de Goiás que sempre o apoiaram? Vai criticar também?
clique aqui para ler o artigo

03 setembro, 2010

Juízes na linha de tiro em Goiás - 3 - A censura é assim

No primeiro artigo desta série comentei  sobre três episódios em que magistrados foram constrangidos no exercício da atividade jurisdicional sem que houvesse reação da Associação dos Magistrados de Goiás (ASMEGO).  

O silêncio contrastava com a publicação de notas apoio [sic ] a dois magistrados a propósito da publicação, por O Popular,  de reportagens informando que eram investigados em procedimentos administrativos disciplinares ( um no CNJ, outro no TJ-GO).

No segundo artigo, tratei da publicação de Nota de Desagravo ao juiz de um dos três casos, uma semana depois, desta vez a propósito da publicação pelo  Diário da Manhã da íntegra do recurso contra sua decisão e dos termos utilizados.

Embora fizesse referência a desembargadores em geral, ao final, a nota não tratou  diretamente do outro caso recente, do desembargador Rogério Arédio Teixeira.

Vice-presidente e corregedor-geral do TRE-GO, ele fora colocado na berlinda pelo Diário da Manhã por ter concedido liminar, em ação proposta pelo PCB contra o candidato Marconi Perillo, determinando que o jornal deixasse de favorecê-lo na sua cobertura .

 O Diário da Manhã considerou que sofrera censura e explorou isso mesmo depois de nova decisão, exinguindo o processo.

Para contextualizar a questão, reproduzo matérias sobre desdobramentos recentes dos dois casos mais conhecidos ( embora a grande imprensa não os noticie) em que o  judiciário está servindo para garrotear o jornalismo de melhor qualidade técnica e ética - em que a liberdade de imprensa foi usada para o seu fim - incomodar os poderosos, servindo ao interesse público. Em ambos, com graves consequências para os jornalistas envolvidos e os veículos que publicam :


1. Jornal Já, de  Porto Alegre (via Observatório da Imprensa)

Como calar e intimidar a imprensa

Por Luiz Cláudio Cunha em 31/8/2010



"Quando o mal é mais audacioso, o bem precisa ser mais corajoso." (Pierre Chesnelong, 1820-1894, político francês
Agosto, mês de cachorro louco, marcou o décimo ano da mais longa e  infame ação na Justiça brasileira contra a liberdade de expressão.

É movida pela família do ex-governador Germano Rigotto, 60 anos, agora candidato ao Senado pelo PMDB do Rio Grande do Sul e supostamente alheio ao processo aberto em 2001 por sua mãe, dona Julieta, hoje com 89 anos. A família atacou em duas frentes, indignada com uma reportagem de quatro páginas, publicada em maio daquele ano em um pequeno mensário (tiragem de 5 mil exemplares) de Porto Alegre, o JÁ, que jogava luzes sobre a maior fraude da história gaúcha e repercutia o envolvimento de Lindomar Rigotto, filho de Julieta e irmão de Germano.
Uma ação, cível, cobrava indenização da editora por dano moral. A outra, por injúria, calúnia e difamação, punia o editor do JÁ e autor da reportagem, Elmar Bones da Costa, hoje com 66 anos. O jornalista foi absolvido em todas as instâncias, apesar dos recursos da família Rigotto, e o processo pelo Código Penal foi arquivado. Mas, em 2003, Bones acabou sendo condenado na área cível ao pagamento de uma indenização de R$ 17 mil. Em agosto de 2005 a Justiça determinou a penhora dos bens da empresa. O JÁ ofereceu o seu acervo de livros, cerca de 15 mil exemplares, mas o juiz não aceitou. Em agosto de 2009, sempre agosto, quando a pena ascendera a quase R$ 55 mil, a Justiça nomeou um perito para bloquear 20% da receita bruta de um jornal comunitário quase moribundo, sem anúncios e reduzido a uma redação virtual que um dia teve 22 jornalistas e hoje se resume a dois – Bones e Patrícia Marini, sua companheira. Cinco meses depois, o perito foi embora com os bolsos vazios, penalizado diante da flagrante indigência financeira da editora.

Até que, na semana passada, no maldito agosto de 2010, a família de Germano Rigotto saboreou mais um giro no inacreditável garrote judicial que asfixia o jornal e seu editor desde o início do Século 21: o juiz Roberto Carvalho Fraga, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre, autorizou o bloqueio online das contas bancárias pessoais de Elmar Bones e seu sócio minoritário, o também jornalista Kenny Braga. Assim, depois do cerco judicial que está matando a editora, a família Rigotto assume o risco deliberado de submeter dois dos jornalistas mais conhecidos do Rio Grande ao vexame da inanição, privados dos recursos essenciais à subsistência de qualquer ser humano.

 clique aqui para ler a íntegra no Observatório da Imprensa


2. Jornal Pessoal, de Belém


O Juiz das Chagas ataca novamente








Por Lúcio Flávio Pinto, em 15/05/2010

Em julho do ano passado, o juiz da 4ª vara cível de Belém, Raimundo das Chagas Filho, me condenou a pagar 30 mil reais, acrescidos de honorários advocatícios e as cominações legais (que devem acrescer em pelo menos mais R$ 10 mil o valor inicial), como indenização por dano moral que teria causado a Ronaldo Maiorana e Romulo Maiorana Júnior, por artigo publicado neste Jornal Pessoal.

O juiz também concedeu aos autores da ação de indenização duas tutelas inibitórias: a publicação da carta-resposta dos donos do grupo Liberal, carta essa jamais juntada aos autos, e a proibição de voltar a me referir a ambos e a seu pai, Romulo Maiorana, sob pena de desobediência e multa.

Diante do conteúdo da sentença condenatória, já comentada neste jornal na época, arguí a suspeição do julgador em 23 de julho do ano passado. Raimundo das Chagas não aceitou a argüição, remetendo os autos do processo à apreciação superior, onde foi instruído. Respondendo ao pedido de informações formulado pela corregedora metropolitana de justiça, desembargadora Eliana Daher Abufaiad, no dia 24 de novembro do amo passado, o juiz contestou os argumentos da exceção de suspeição. Alegou, dentre outros pontos:
“Toda crítica e inconformismo deflagrado [sic] pelo reclamante contra a respeitável sentença de mérito exarada nos autos da ação ordinária serve apenas de fundamento para um eventual recurso de apelação”.

Em 4 de dezembro do ano passado a corregedora decidiu pela rejeição da suspeição. Recorri para o tribunal da decisão, que foi mantida pelo colegiado. Dessa decisão não cabe mais qualquer forma de recurso. Tendo sido publicada na edição do Diário da Justiça do dia 7 de maio, no dia 13 apelei da sentença condenatória. Esse recurso era para mim não uma eventualidade, como alegou o magistrado, com certa ironia, mas uma imposição da defesa dos meus direitos e por ser de justiça.

No dia 19, o juiz Raimundo das Chagas Filho, que havia sustentado sua habilitação e idoneidade perante mim e, em seguida, diante da corregedoria de justiça, voltou atrás. Declarou-se suspeito por motivo de foro íntimo para “julgar e processar o presente feito, com arrimo no art. 135, parágrafo único, do Código de Processo Civil”.

Justificou o magistrado sua surpreendente atitude pela minha suposta “irresignação”, que teria surgido “por conta da prolação da sentença de mérito exarada neste processo judicial extrapolou as vias impugnativas enveredando para ataque pessoal a este magistrado por meio de blog na internet, abaixo assinado subscrito por seus simpatizantes, críticas severas à sentença, até mesmo reclamação no CNJ e na Corregedoria de Justiça“.

Foi de pasmar: depois de ter rejeitado o incidente de suspeição e de ter combatido as razões que apresentei, nessa manifestação novamente usando termos duros contra mim, o juiz se sentiu atingido em seu foro íntimo e voltou atrás na deliberação anterior. Mudou porque foi criticado de público, viu manifestações de desagravo ao jornalista por si condenado e até foi objeto de questionamentos junto ao CNJ e à Corregedoria de Justiça do Estado, como se tais manifestações e iniciativas não fizessem parte do estado natural de coisas numa democracia e não fossem recursos facultados ao cidadão no ordenamento legal vigente no país.

26 maio, 2010

Propaganda governamental: Goiás é o terceiro em gastos

Ontem o Diário da Manhã reproduziu reportagem da Folha de São Paulo, do dia anterior, sobre os gastos com publicidade e propaganda dos governos estaduais.

Goiás é o 3° em valor gasto por habitante, perdendo apenas para o Distrito Federal e Tocantins. Em valor absoluto, é o quarto, atrás de São Paulo, Rio Grande do Sul e do Distrito Federal.

O total gasto por Goiás em 2009, segundo a matéria, foi de R$ 109 milhões.

Com esses números, o governo estadual retoma o nível de gastos apresentado em 2003 ( R$ 109,8 milhões) e 2006 (R$ 110,4 milhões), em valores nominais. Uma recuperação e tanto, considerado o tombo de 76% ocorrido nessas despesas em 2007 (R$ 26,4 milhões), como mostrei há dois anos.

Acabou, portanto, o prêmio de que desfrutou o prefeito Iris Rezende em sua reeleição à prefeitura de Goiânia, quando a queda nos gastos do estado potencializou a importância dos gastos da prefeitura, que passaram de cerca de 10% para quase metade daqueles, como também mostrei à mesma época ( em outubro de 2008, fiz uma análise mais aprofundada deste presente ganho por Iris).

Coincidentemente, no próximo sábado, a partir das 14h., apresentarei, no XII Intercom - Congresso de Ciências da Comunicação - Regional Centro-Oeste, o artigo Despesas com Publicidade e Propaganda de Governos do Estado de Goiás, em que apresento os montantes e a evolução dessas despesas no período de três governos, entre 1994 e 2006 (veja aqui a lista completa de trabalhos que serão apresentados).

Abaixo, o resumo do artigo:

O conhecimento dos atos dos governos, permitindo o seu controle, é da essência da democracia. Uma mídia independente e atuante é fundamental para que isso ocorra. Na América Latina, a ação dos governos, em especial no controle da distribuição das verbas de publicidade e propaganda, dificulta sua efetivação. No Estado de Goiás, verificou-se, num período de doze anos, valores altos para essas despesas, em termos absolutos e relativos, além do seu aumento real ao longo dos anos.

30 abril, 2010

Anistia - Vídeos do julgamento pelo STF em 29.04.10

1. O voto da ministra Cármen Lúcia, pelo indeferimento da ação, e a primeira parte do voto do ministro Ricardo Lewandowski, em favor do pleito da OAB:




2.Continuação do voto do ministro Ricardo Lewandowski, que abriu divergência, e opinou pelo deferimento do pedido e o voto do ministro Ayres Britto na mesma linha:



3. Os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Ellen Gracie e Marco Aurélio pelo indeferimento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153:



4.Primeira parte do voto do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo indeferimento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153:



5.Segunda parte do voto do ministro Celso de Mello e a íntegra do voto do ministro Cezar Peluso:

Anistia: Dormem em paz os torturadores de ontem e de hoje

Por Luciano Martins Costa, no programa Observatório no Rádio de hoje:

Ação entre amigos

(clique aqui para ouvir)


A decisão do Supremo Tribunal Federal, de rejeitar, por sete votos a dois, o pedido de revisão da Lei da Anistia, encaminhado pela Ordem dos Advogados do Brasil, é tema de primeira página em todos os jornais de circulação nacional.

Promulgada em 1979, a lei consolidava um acordo que viria a permitir a retirado do poder dos chefes militares que se sucediam na presidência da República desde 1964.

Com o desgaste do regime, os ideólogos da ditadura impuseram à oposição consentida da época um acordo de esquecimento em troca da reabilitação de cidadãos cujos direitos políticos haviam sido cassados por força dos atos institucionais.

A decisão do STF vai na contramão do entendimento das cortes internacionais, que não aceitam a anistia de crimes contra a humanidade.

Na época, era comum a imprensa se referir à “sociedade civil organizada” como referência da opinião pública que contava – ou aquele conjunto de forças políticas que negociava com os militares um final sem traumas para o regime que desmoronava.

Foi a segunda ditadura mais longa do período na América Latina, apenas mais curta do que o regime cubano.

Centenas de pessoas foram mortas e desapareceram nos órgãos de repressão, milhares foram perseguidos e o arcabouço institucional do Brasil virou de pernas para o ar.

Ainda hoje o país enfrenta sequelas daquele período autoritário.

Uma delas é o temor de ajustar as contas com a História.

A imprensa, que foi parte influente nesse acordo, sempre se recusou a vasculhar os crimes da ditadura.

Muitos dos políticos que apoiaram o regime militar se tornaram personagens diletos do noticiário e fontes de opinião de jornais e revistas.

O jogo do poder segue sendo partilhado pelas mesmas forças que articularam a anistia e a reorganização institucional que se seguiu.

A mesma “sociedade civil organizada” conduziu, na década seguinte, a Constituição que viria a compor o arcabouço legal do Brasil redemocratizado.

Na época em que se deu essa negociação, quase metade da população brasileira vivia em condições de pobreza, ocupada com a própria sobrevivência, e, por isso, alienada das decisões políticas.

Os acordos da chamada “sociedade civil organizada” contemplavam os interesses da outra metade.

O Brasil mudou desde então.

Grande parte daqueles que eram os excluídos forma agora a nova classe média, a fatia predominante na sociedade.

Esses devem acompanhar com estranheza a decisão do STF, como se estivesse acontecendo em um país estrangeiro.

É nessas famílias que recai a herança violenta da ditadura, por meio da truculência policial que restou das escolas de tortura.

Os torturadores do tempo da ditadura podem dormir em paz, sem medo da Justiça.

Assim como dormem em paz os torturadores e assassinos dos tempos democráticos.

29 abril, 2010

Anistia - Vídeos do julgamento pelo STF em 28.04.10

O STF acaba de disponibilizar no Youtube os seis vídeos da sessão de ontem:

1.Com as exposições do relator da ADPF, ministro Eros Grau, do representante da OAB, Fábio Konder Comparato e dos representantes da Associação Juízes para a Democracia e do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), entidades que ingressaram no feito como amici curiae (amigos da Corte).



2. Com a exposição da representante da Associação Democrática e Nacionalista de Militares (ADNAM), entidade que ingressou no feito como amicus curiae (amigo da Corte) e os pareceres da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), pela improcedência da ação, e a exposição da representante do Congresso Nacional, que pediu ao Supremo que não acolha a ADPF.



3. Com a decisão, por 8 votos a 1, do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) de analisar o mérito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153. O posicionamento da Corte foi tomado antes de o relator do processo, ministro Eros Grau, passar a analisar o mérito do processo.



4. Com a primeira parte do voto ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau, relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153.



5. Com a segunda parte do voto ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau.



6.Com o final do voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau, pela manutenção da Lei nº Lei 6.683/1979, a Lei da Anistia, como está escrita atualmente.

28 abril, 2010

Anistia - do voto do relator

Estava impossível assistir ao primeiro dia do julgamento da ADPF 153, pela TV Justiça, via internet. Depois de tantos autoelogios nos últimos dias, foi um fiasco para a emissora. Aparentemente, não se prepararam para o volume de acessos mais que previsível.

A transmissão foi toda truncada. Só consegui assistir a partes das sustentações de Fábio Konder Comparato, Helena de Souza Rocha e Vera Karan de Chueiri. De Pierpaolo Cruz Bottini, nada. Partes também do Procurador Geral da República, do Advogado Geral da União e do Ministro Eros Grau.

De tudo o que falou o relator, o que mais me impressionou foi um precedente que buscou no Estado Novo, num julgado de 1942, três anos antes de começarem os Julgamentos de Nuremberg ( aos quais se referiu o senador Pedro Simon - veja texto anterior) e o inacreditável comentário que fez logo após (negritos meus):


Outro ponto a considerarmos --- e isso diz imediatamente com estes autos --- encontra-se no Recurso em Habeas Corpus n. 28.294, Relator o Ministro Philadelpho de Azevedo, de 1942, cuja ementa é a seguinte: “Estão incluídos na anistia ampla outorgada pelo decreto n. 19.395 de 1930 em relação aos crimes políticos e militares e aos conexos com estes os delitos atribuídos a policiais de um Estado cometidos na perseguição de grupos sediciosos que se movimentavam no sertão”. Tratava-se de fatos ocorridos em 1926. Cleto Campelo, tenente revoltoso, partiu de Jaboatão, com um grupo de revolucionários, pretendendo incorporar-se à Coluna Prestes. Em Gravatá morto em combate Cleto Campelo, seguiram os demais, sob o comando de Valdemar de Paula Lima, até que, perseguidos a partir de Limoeiro por uma força irregular integrada por policiais da Força Pública do Estado de Pernambuco, caíram em uma emboscada. Valdemar de Paula Lima e dois dos seus demais companheiros foram então brutalmente assassinados, com requintes de crueldade, sangrados a punhal. Três policiais foram denunciados por esses homicídios em janeiro de 1931. Após longa tramitação dos autos foi negada a aplicação da anistia do decreto n. 19.395 aos acusados. Esta Corte o fez. Colho, no voto do relator, o Ministro Philadelpho de Azevedo, o seguinte trecho: “A medida devia, assim, alcançar aos que se envolveram direta ou indiretamente, [sic] em movimentos revolucionários, tanto
de um lado, como de outro, sendo inútil desmontar as peças de textos de largo alcance social para apurar se o mesmo fato constituiria crime político ou crime militar, ou ainda conexo com qualquer deles”. Concedeu-se o habeas corpus por unanimidade. Há momentos históricos em que o caráter de um povo se manifesta com plena nitidez. Talvez o nosso, cordial, se desnude na sucessão das frequentes anistias concedidas entre nós.

Anistia - Enquanto o Supremo não decide... 4- Imperdível - Discurso de Pedro Simon

Em discurso no Senado na segunda-feira, o senador Pedro Simon explicita a dimensão do julgamento de hoje no STF .




Trechos (grifos meus - veja íntegra no Jornal Já ou clique aqui para assistir ao vídeo do discurso - 24 minutos):


O que pede a OAB é simples: que o STF interprete o Artigo 1° da Lei da Anistia, declarando, de forma clara e definitiva, que a Anistia não se aplica aos crimes comuns praticados por agentes da repressão durante o regime militar que manteve o país sob ditadura entre 1964 e 1985.

Tortura, assassinato e desaparecimento forçado são crimes de lesa-humanidade, imprescritíveis, conforme tratados internacionais assinados pelo Brasil e nunca colocados em prática aqui dentro.

São crimes que não podem, portanto, ser objeto de anistia ou auto-anistia.
Não são crimes políticos e nem conexos, e assim não podem se nivelar às punições dadas a tantos brasileiros que, condenados às prisões ou ao exílio, acabaram beneficiados em 1979 pela Lei de Anistia que os abrigava.

Lei nenhuma, porém, no Brasil ou no mundo, acolhe a tortura, ou a reconhece.
O Brasil é o único país da América Latina que ainda não julgou criminalmente os homens que se excederam na ditadura, torturando e matando.
Ao longo de 21 anos de regime autoritário, vicejou aqui um sistema repressivo estimado em 24 mil agentes que, por razões políticas, prendeu cerca de 50 mil brasileiros e torturou algo em torno de 20 mil pessoas – uma média de três torturas a cada dia de ditadura. Que não foi branda, nem curta, nem clemente.
(...)

É por isso que, até hoje, um ou outro criminoso de guerra nazista ainda é caçado e preso, embora tenha 80 ou 90 anos de vida. Não é pelo prazer da caça, mas pelo dever moral que a civilização tem de lembrar a todos que os seus crimes não se apagam, não se perdoam.
(...) Os juízes [ do Tribunal de Nuremberg] negaram o argumento da defesa que eles [os 18 principais chefes do Reich] apenas “cumpriam ordens”.
O juiz americano Francis Biddle fulminou esta tese com uma frase imortal: “Os indivíduos têm deveres internacionais a cumprir, acima dos deveres nacionais que um Estado particular possa impor”.
Ficou assim encravado na consciência moral do mundo que todos nós somos responsáveis pelos atos que praticamos. Ninguém é inocente para “cumprir ordens” contra a lei, a moral, a ética e a verdade.
(...)

O historiador americano Edward Peters, professor da Universidade da Pensilvânia, advertiu: “O futuro da tortura está indissoluvelmente ligado ao futuro dos torturadores”.
No berço da tortura não punida nasceu a impunidade da violência não resolvido do Brasil, antes na ditadura, agora na democracia.
Ou seja, a impunidade do torturador acaba garantindo a perenidade da tortura e de sua filha dileta, a violência.
O Brasil que evita punir ou sequer apontar seus torturadores acaba banalizando a violência que transborda a ditadura e vitimiza o cidadão comum em plena democracia, principalmente nas duas maiores capitais, São Paulo e Rio.




27 abril, 2010

Anistia - Enquanto o Supremo não decide... - 3 - Mídia brasileira está ocultando Garzón?

No primeiro artigo desta série, fiz remissão a vários artigos e vídeo tratando do assunto, entre eles a nota da Associação Juízes pela Democracia em apoio ao juiz espanhol Baltazar Garzón, publicada no Blog do Fred.

Lembrei que caso o STF adote os pareceres da Procuradoria da República e da AGU, para que tudo continue como está, o país continuará sendo a solitária exceção a não julgar os criminosos das ditaduras implantadas entre os anos 60 e 70. Julgamentos que tiveram na atuação de Garzón um estímulo fundamental, quando pediu a extradição de Pinochet.

Hoje, em artigo no Observatório da Imprensa, Alberto Dines trata em profundidade da atuação de Garzón e do movimento que se instalou na Espanha e no resto do mundo em sua defesa, elucidando os interesses que movem a direita espanhola contra o juiz. Destaca a ausência do caso na mídia brasileira explicando as razões, que explicam também o desinteresse pela votação de amanhã:

A mídia européia e americana solidarizou-se com Balta Garzón: para o New York Times, The Guardian, The Economist, o Liberation e Le Monde investigar os desaparecimentos durante a Guerra Civil não é delito, delito é perseguir um juiz que vai às últimas conseqüências em busca da verdade.

O cerco a Garzón dificilmente empolgará nossa mídia e não apenas por causa do embargo da Opus Dei nativa, mas porque o recente imbróglio em torno do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) foi resolvido com um acordo entre as partes: o governo retira do programa os itens que desagradam à mídia e esta não insiste na reabertura das investigações sobre as violências cometidas pelos órgãos de segurança durante o regime militar.

Pela gravidade da questão, Dines conclama seus leitores à ação:

Escreva ao seu jornal ou revista, caro leitor. Cobre deles um mínimo de informações sobre a perseguição a Baltasar Garzón. Você tem esse direito. Pergunte por que razão o cidadão brasileiro deve ser narcotizado pelas irrelevâncias e mantido à margem das trepidações que estão mudando o mundo.

11 abril, 2010

Anistia - Enquanto o Supremo não decide...

Na última segunda-feira, dia 8, Frederico Vasconcelos publicou, em seu blog, o manifesto da Associação Juízes pela Democracia e do Movimento do Ministério Público Democrático do Brasil, em apoio ao juiz espanhol Baltazar Garzón.

No mesmo dia, um pouco mais tarde, noticiou que o STF julgará na quarta-feira, dia 14, a ação proposta pela OAB em outubro de 2008 em que "trata-se de saber se houve ou não anistia dos agentes públicos responsáveis, entre outros crimes, pela prática de homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, lesões corporais, estupro e atentado violento ao pudor contra opositores políticos ao regime militar (1964/1985)". A Procuradoria da República e a AGU deram pareceres para que tudo continue como está.

Se for esta a decisão do STF, o país continuará sendo a solitária exceção a não julgar os criminosos das ditaduras implantadas entre os anos 60 e 70. Julgamentos que tiveram na atuação de Garzón um estímulo fundamental, quando pediu a extradição de Pinochet.

Enquanto aguardamos pelo STF, é uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais a respeito do assunto:

1) Sobre o clima de "entendimento" que vivia o país à época, a entrevista do general Newton Cruz, chefe da Agência Central do SNI entre 1977 e 1983 ( a lei é de 1979), no programa Dossiê Globonews de ontem;

2) Sobre os acontecimentos nos períodos imediatamente anterior e posterior à aprovação da lei, a o material disponibilizado pela Folha sobre o governo Figueiredo, publicado à época da eleição de 2002 ( a lei é de agosto de 1979 e o AI-5 tinha sido revogado 8 meses antes, em 31 de dezembro de 1978), destacando-se os atentados promovidos pela linha dura do regime;
- Sobre os atentados à OAB, à Câmara Municipal e a um jornal, no Rio de Janeiro, em agosto de 1980.

3) Sobre como o passado não resolvido se reflete na continuação do uso da tortura no presente, tendo como vítimas os pobres, artigo de Maria Inês Nassif, no Valor;

4) No mesmo sentido, trecho do comunicado da Anistia Internacional, por ocasião da divulgação do Plano Nacional de Direitos Humanos:

O ponto central do novo programa é a importante inclusão do direito à memória e à verdade, com a promessa da formação de uma comissão para apurar e divulgar os crimes contra os direitos humanos cometidos pelo regime militar do país.

A Anistia Internacional afirmou que espera que esta comissão venha a finalmente alinhar o Brasil aos outros países da região, que há muito tempo se esforçam para julgar os responsáveis por crimes como desaparecimento, tortura e execução extrajudicial, assegurando assim que as famílias das vítimas gozem do direito à reparação.

O legado de impunidade de crimes passados contra os direitos humanos perdura nos relatórios diários de mortes causadas pela polícia e casos de tortura que hoje caracterizam o sistema de justiça criminal do Brasil.



5) Trecho do comunicado do Human Rights Watch, de abril do ano passado, logo após decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia:

(Washington, DC) - O Brasil deve investigar e levar a julgamento as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura de 1964-1985 após uma decisão judicial histórica, afirmou a Human Rights Watch hoje. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirmou que anistias e prescrições não se aplicam a crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura militar no Brasil.

A conclusão da comissão, anunciada em 8 de abril de 2009, é a primeira decisão internacional relacionada aos abusos cometidos durante a ditadura militar no Brasil (1964 a 1985). A petição que deu origem à decisão foi enviada por familiares de 70 pessoas desaparecidas durante operações militares contra o movimento comunista de guerrilha do Araguaia nos anos 70.

"O Brasil não promoveu julgamentos e nem mesmo instaurou uma comissão da verdade para apurar os crimes muito graves que foram cometidos, e está atrasado em relação a outros países da região no que diz respeito à responsabilização por abusos do passado", disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch. "Quase um quarto de século já se passou desde a transição para a democracia. As vítimas e suas famílias já esperaram demais por justiça."

6) Trecho de palestra de Noam Chomsky em Stuttgart, na Alemanha, em 23 de março, em tradução minha:

Cuba à parte, a praga do terror de estado no hemisfério ocidental foi iniciada com o golpe brasileiro em 1964, instalando o primeiro de uma série de Estados de Segurança Nacional neonazistas e iniciando a praga da repressão sem precedentes no hemisfério, sempre fortemente apoiada por Washington, e por esta razão uma forma particularmente violenta de terrorismo internacional de direcionamento estatal. A campanha era em grande medida uma guerra contra a Igreja [em função do Concílio Vaticano II, iniciado em 1962]. Foi mais que simbólico que ela tenha culminado com o assassinato de seis destacados intelectuais latino americanos, padres jesuítas, em novembro de 1989, alguns dias após a queda do Muro de Berlim. Eles foram assassinados por um batalhão de elite salvadorenho, recentemente treinado na Escola de Forças Especiais John F. Kennedy , na Carolina do Norte. Como se soube em novembro último, mas aparentemente não despertou interesse nenhum, a ordem para os assassinatos foi assinada pelo chefe de governo e seus assessores, todos eles tão próximos do Pentágono e da Embaixada Americana que se torna ainda mais difícil imaginar que Washinton não tivesse conhecimento dos planos deste batalhão modelo.
7) De Jânio de Freitas, sobre a ameça de demissão dos ministros militares, no início do ano, após a divulgação do Plano Nacional de Direitos Humanos, tratando especificamente da anistia;

8) Trecho de artigo de Luiz Cláudio Cunha, repleto de dados históricos, também sobre a crise do fim do ano passado:

Na antevéspera do Natal, quando já bimbalhavam os sinos, o presidente Lula ouviu em seu gabinete um tropel distante. Não eram as renas do bom velhinho. Era o som metálico dos cascos das montarias de seu ministro da Defesa e dos chefes das Forças Armadas, em marcha batida para emparedar o presidente na mais grave crise militar da República desde 1977, quando o presidente Ernesto Geisel demitiu o então ministro do Exército Sylvio Frota, num gesto implacável e temerário para conter o radicalismo da linha-dura do regime – que no espaço de três meses matou, sob torturas, o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Filho no DOI-CODI do II Exército, em São Paulo.

Desta vez ocorre o contrário. Os comandantes militares é que tentam enquadrar o presidente da República, ameaçando uma demissão coletiva contra o decreto presidencial que cria a Comissão Nacional da Verdade, destinada a investigar violações de direitos humanos e casos de tortura durante a ditadura militar (1964-1985).

Durante duas décadas, um aparato repressivo estimado em 24 mil agentes prendeu por razões políticas cerca de 50 mil brasileiros e torturou algo em torno de 20 mil pessoas – três a cada dia.



8) Entrevista com Fábio Konder Comparato, um dos signatários da petição da OAB no STF, à Carta Capital - primeira e segunda partes.

9) Trailer e blog de Guerrilha do Araguaia, as faces ocultas da história, filme de produção goiana, exibido em rede nacional pelo programa DocTV, infelizmente não lançado em DVD.

08 abril, 2010

Extrema direita leva Garzón ao banco dos réus e a República da Soja

Enquanto não publico nada aqui, tenho registrado leituras interessantes no canto direito do blog, nos meus bookmarks do delicious.

Um exemplo: imperdível o artigo de José Saramago, em seu blog, sobre a tentativa ora em curso junto à Corte Suprema da Espanha, de afastar o juiz Baltazar Garzón da magistratura. Para acompanhar os acontecimentos, a cobertura do El País. Ontem houve uma manifestação com cerca de 500 participantes, em solidariedade ao juiz.

Ainda no El País, excelente artigo na edição de domingo sobre o avanço da soja na Argentina e suas consequências: tudo a ver com a expansão dela e da cana em Goiás.

16 fevereiro, 2010

Niemeyer - Na Carta Capital



Catorze meses depois de ser notícia na Coluna de Elio Gaspari, agora o Nimeyer apareceu na Carta Capital.

A revista liberou o acesso em seu site à reportagem da edição desta semana (que circulou em SP na sexta e em Goiânia no domingo). Já começou a propagação por e-mail.

Para quem leu a reportagem histórica Niemeyer, novela sem fim (a melhor que já li no jornal até hoje - inclusive pela repercussão inédita e, curiosamente, não incluída na lista para ser votada entre as melhores do ano...) publicada em O Popular, em 7 de fevereiro de 2009, há pouca novidade.

Uma, a confirmação de que "face às sobrecargas adotadas pelo calculista estrutural" só um dos quatro andares da Biblioteca poderia ser ocupado com livros, comunicada à AGEPEL por uma correspondência da AGETOP . Outra, o custo total do projeto: R$ 2 milhões (o mote da matéria é o cano que o centenário arquiteto está levando do Estado). No entanto, as duas informações não são reunidas - a matéria não esclarece quem foi o responsável pelo problema na biblioteca - se o calculista ( supostamente da equipe de Nimeyer e que deveria saber que no prédio seriam guardados livros) ou a AGEPEL e/ou a AGETOP ( que não teriam informado a função do edifício?).

Há outras duas informações curiosas: uma, a de que o presidente da Organização Jaime Câmara é "um forte aliado de Marconi Perillo". Será? No momento em que a revista era distribuída em SP, ele estava inaugurando uma escola com o nome de seu pai ao lado de Iris e Lula ( matéria cita a inauguração de uma galeria no Niemeyer com o nome de sua mãe). Taí uma coisa que eu gostaria de saber.

Outra, a de que Marconi tem grande influência no TCE, inclusive sobre o conselheiro Naphtali Alves, relator do processo. Até aí, tudo bem. Mas a matéria afirma que por isso não deverá sair uma decisão até outubro. Não vejo sentido. A demora do TCE é que está causando a angústia de Marconi, que não vê a hora da obra ser terminada, como já mostrei aqui antes e está na própria matéria da CC: ele quer uma decisão logo. Que aliás, já foi adiantada em julho passado: é para pagar mais dez milhões para a construtora terminar a obra.

O TCE-GO não é o TCU, não se esqueçam. Fiz questão de assistir in loco a uma sessão do TCE-GO em janeiro e vi e ouvi o suficiente para arriscar um palpite: só se acontecer um terromoto ou um Tsunami em Goiânia para o tribunal não autorizar o término das obras, com o pagamento da diferença reclamada pela construtora. Se a decisão já está tomada, não faz sentido atribuir a Marconi - o grande prejudicado - a demora na decisão oficial do tribunal.

Aliás, a força da questão do Niemeyer, é pelo seu valor simbólico: está ali, na frente de todo mundo e foi propagandeado à forra. Virou antipropaganda. Em valores monetários, no entanto, as questões referentes a incentivos fiscais é que são o bicho. Como, aliás, comentou o Secretário da Fazenda no Fórum de Cultura, em junho. Nisso, ninguém fala...

Carta Capital já tratou de Goiás outras vezes. Infelizmente, em matérias que depois não tem continuidade. Abaixo, artigo que postei em 2007 sobre isso ( a revista desativou os links):

16 Julho, 2007

Goiás na Carta Capital: Marconi 3 X Maguito 3

Ontem, por acaso, encontrei a Carta Capital do dia 08.06, que o entregador jogou sobre o telhado.

Entre os artigos de opinião, a crítica à nomeação de Maguito Vilela para a vice-presidência do BB, com direito até a foto (Avancos Sobre a Caixa e o BB).
Maguito já tinha aparecido antes na revista:
- em artigo de Paulo Henrique Amorim sobre a disputa entre a Rede Globo e as empresas das novas mídias, comentando Proposta de Emenda Constitucional de sua autoria, ainda senador, que atendia aos interesses daquela (Vênus Perde o Laquê) e
- na seção de opinião, após as eleições de 2002, considerado " o estuprador da Lei Pelé", em artigo sobre a surra do eleitorado na "bancada da bola" (Acabou a bola da "bancada da bola").

Marconi Perillo também apareceu três vezes na revista:
- com elogios a sua atuação nos bastidores da eleição de Lula, em 2002 (Brasil da Silva);
- comentando seu imbróglio com Kajuru ( a favor deste);
- na eleição do ano passado, a próposito de denúncia apresentada no programa eleitoral de Demóstenes Torres, acusando pessoa ligada à segurança do ex-governador de atentado contra a residência daquele (Tiros e Traições) - cuja reprodução no horário eleitoral foi inclusive proibida ( Eleições em Goiás Autoritarismo em Dose Dupla).

Em Goiás, quem abordou a polêmicas envolvendo Marconi foi o jornalista Eduardo Horácio, no seu blog Jornal X ( TRE retira das bancas jornal goiano que republica denúncia da Carta Capital e Kajuru: ‘Se a classe política me tirar da mídia, volto para Goiás e sou candidato’) e na Tribuna do Planalto, com Filemon Pereira (Haverá Fato Novo de Última Hora?), na cobertura das eleições do ano passado. O jornal X também registrou o episódio de Maguito com a Globo (Última Derrota de Maguito no ano: tentar defender a TV Globo).


31 janeiro, 2010

Demissões em massa: O Popular e TV Anhanguera - 2 - Jornalistas e seus limites

Nos comentários feitos no artigo anterior, foi cobrado maior posicionamento político dos jornalista e do seu sindicato. Por que não cobrá-lo também dos professores da UFG e dos membros do Ministério Público, que estão em situação profissional muito mais favorável que os jornalistas (entre outras categorias...). A questão é complexa e o problema é de estrutural, histórico.

Aproveitando o contexto, indico três artigos excelentes, escritos logo após o STF acabar com a exigência do diploma para o exercício do jornalismo.

O primeiro, de Lúcio Flávio Pinto, O Fim do AI-5 dos jornalistas historia a evolução que vinham tendo concomitantemente a democracia e a imprensa brasileira até o corte advindo na Sexta-feira Negra. Mostra como chegamos no jornalismo que temos hoje. Lúcio, sobre quem já escrevi antes aqui, dispensa comentários quanto à sua independência.

O segundo, de Jânio de Freitas, A Liberdade das Más Razões, foca nas vicissitudes da profissão e no real significado da expressão "liberdade de expressão". Mostra bem os limites dos jornalistas nos veículos em que trabalham, muito distante da liberdade que se pode imaginar em muitas cobranças (grifei):

É um argumento rústico a afirmação de que diploma obrigatório de jornalismo desrespeita a Constituição, por restringir o direito à liberdade de expressão. É falsa essa ideia de que o jornalismo profissional seja o repositório da liberdade opinativa. São inúmeros os meios de expressão de ideias e opiniões. E, não menos significativo, a muito poucos, nos milhares de jornalistas, é dada a oportunidade de expressar sua opinião, e a pouquíssimos a liberdade incondicional de escolha e tratamento dos seus temas. (A esta peculiaridade sua, a Folha deve a arrancada de jornal sobrevivente para o grande êxito).

Finalmente, de Maurício Stycer, ex-redator-chefe da Carta Capital, professor da Cásper Líbero, renomada escola de jornalismo ( a primeira do país, segundo o artigo do Lúcio), Contra a Obrigatoriedade do Diploma, a Favor da Regulamentação, uma abordagem bem prática da questão, sem deixar de mencionar a causa à qual atribui a imprensa de má qualidade:

6. Discordo do meu amigo Leandro Fortes, para quem o diploma de jornalismo defende “milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito”. Na minha opinião, não é o diploma que defende o público dos manipuladores de notícias, mas a concorrência. Sem concorrência, como é o caso em grande parte do país, a imprensa de má qualidade prospera – e continuará a prosperar – com ou sem diploma para jornalista.

16 janeiro, 2010

Eleições em Goiás no Valor Econômico e Iris e/ou Marconi em matérias históricas -Atualizado

(clique sobre as imagens para ler ou baixar os arquivos e sobre os textos em destaque para ler os artigos em que fiz remissão a eles)

O jornal Valor Econômico publicou ontem artigo sobre a sucessão em Goiânia (Iris Rezende e Meirelles começam a definir candidatura em Goiás) . O interesse logicamente decorre da possível candidatura do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas a maior parte do artigo é sobre Iris Rezende: as razões que o levariam a evitar ser candidato e sua biografia. Em destaque, a derrota para Marconi Perillo nas eleições de 98. Dois trechos (com grifo meu):

Com 76 anos, problemas de saúde - fez recentemente uma cirurgia - e um "trauma eleitoral" em 1998, quando foi literalmente "humilhado" nas urnas pelo tsunami Marconi Perillo (PSDB-GO), o prefeito não demonstra disposição para repetir a experiência. É o chefe incontestável de uma das unidades da federação pemedebista (Goiás) e deve também avaliar a situação com os outros caciques regionais do partido.
...

Doze anos após a derrota para Perillo, o fantasma da "panelinha" ainda assombra. Em 1998, ele perdeu uma eleição na qual entrou virtualmente eleito, com mais de 70% das intenções de voto contra minguados 3% do tucano. Parecia o fim de uma carreira iniciada em 1958, como vereador, e que teve a sua primeira morte em 1969, quando era prefeito de Goiânia e perdeu o cargo ao entrar numa leva de políticos que tiveram o mandato cassado pelo regime militar.
Voltou quando o regime ensaiou a abertura política e permitiu eleições diretas para governador, em 1982. A partir daí construiu uma carreira vitoriosa. Das dez eleições que disputou até agora, perdeu duas. O político moderno dos anos 60 tornou-se também um cacique oligarca ao longo dos anos, condição que foi fatal na eleição de 1998, uma das duas das quais saiu derrotado: Perillo explorou com maestria o fato de o Estado estar havia anos controlado pela mesma "panela" - uma faísca que incendiou a campanha goiana e transformou em pó a candidatura de Iris.

Já escrevi aqui (Recordar é viver: A campanha de hoje e a de 1998) sobre um dos episódios mais incríveis daquelas eleições: o abandono da campanha de Marconi pelo seu coordenador, Kleber Adorno. Ele aderiu a Maguito Vilela e saiu atirando no seu ex-candidato, com direito até a anúncio em jornal (publicado a 20 dias das eleições, quando a diferença entre os dois candidatos já diminuíra para 52% a 22%) dizendo que Marconi acabaria com a distribuição de cestas básicas, programa que popularizara Maguito.



Anúncio publicado nos jornais: na foto, Iris e Kleber se abraçam, observados por Maguito e Paulo Roberto Cunha


No mesmo artigo, citei o perfil de Marconi, publicado pelo Correio Brazilense ( dos bons tempos de Noblat), escrito por José Rezende Jr., a partir da cobertura de um dia de campanha em Carmo do Rio Verde. Imperdível.





E já que estamos em ano eleitoral, vale a pena ler também as outras duas reportagens que postei anteriormente, feitas por veículos de fora de Goiás :

- a cobertura para o Estadão, pelo saudoso José Roberto Alencar, da convenção do PMDB em que Iris disputou a vaga de candidato a presidente do partido e era "o queridinho da direita", em 1989.




- a entrevista de Marconi ao Pasquim21, no início do seu segundo mandato;









Atualização em 17.01.10 - Adicionei a reprodução do anúncio nos jornais e o texto em verde, com a data aproximada da sua publicação e os percentuais de intenção de voto à época.