O fundamentalismo entrou em campo na campanha eleitoral, mas ótimos artigos põem as coisas em seu devido lugar. Por exemplo, Janio de Freitas , na Folha de hoje, Maurício Stycer, sexta-feira, no UOL e ainda Elio Gaspari (relembrando o caso Lurian, da campanha de 89) , também na Folha .
Aproveito para finalmente comentar um artigo de junho do ano passado, que coloquei nas minhas referências no delicious (veja lista no canto direito da página). É de um arrependido ex-líder do movimento Pró-vida da direita americana, autor de bestseller, assim como seu pai fora.
O artigo foi escrito a propósito da violência desencadeada pelos pregadores dos movimentos fundamentalistas, que culminam em assassinatos como o que na véspera vitimara o Dr. George Tiller, um dos poucos médicos americanos que faziam abortos em casos de gravidez já adiantada.
É justamente este o ponto central do artigo: o uso que o movimento faz das chocantes imagens de abortos deste tipo e a necessidade se regulamentar a prática de acordo com o desenvolvimento do feto, o que a decisão da Suprema Corte Roe v. Wade não admitiu. Traduzo um trecho (leia completo, no Huffington Post):
Contribuir para um clima extremado e às vezes violento não tem sido um defeito apenas do movimento dos cruzados antiaborto. A decisão Roe versus Wade foi muito longe , muito rápida e muito exagerada. Eu acredito que o aborto deveria ser legal. Mas eu também acredito que ele deveria ser re-regulamentado de acordo com o desenvolvimento fetal. São os abortos tardios que horrorizam a maioria das pessoas. E se quisermos manter o aborto legalizado é preciso fazer ajustes. A decisão Roe vai ao extremo no tudo ou nada ( como eu explico em meu livro Louco por Deus : Como Eu Cresci Sendo um dos Eleitos, Ajudei a Fundar a Direita Religiosa e Vivi para Voltar atrás em Tudo - ou Quase Tudo). Conforme eu digo em meu livro, hoje eu acredito que o aborto deve ser legal mas mais regulado que Roe permite. Eu também acho que nos deveríamos fazer o que o Presidente Obama defende: usar a educação sexual e a distribuição de contraceptivos e programas para ajudar as mulheres e as jovens de maneira que resulte em menos abortos.
Mas a razão pela qual esta discussão nunca vai se encerrar é que o julgado Roe foi uma decisão ampla que torna o aborto legal mesmo nas últimas semanas de gestação. Elimine as fotos de todos aqueles fetos tardios mortos e tudo muda emocionalmente. A democracia e o debate público estão bagunçados mas se o aborto tivesse sido discutido estado por estado o aborto seria legal em quase todos os nossos estados e provavelmente as leis teriam sido editadas mais parecidas com as da Europa, onde os abortos tardios (como aqueles nos quais o Dr. Tiller se especializou ) são ilegais e/ou altamente desencorajados.
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