NOTA DE REPÚDIO ÀS DEMISSÕES EM MASSA NO JORNAL O POPULAR
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas vêm a público para repudiar a atitude da Organização Jaime Câmara de promover demissão em massa de trabalhadores do jornal O Popular, de sua propriedade. Nada menos do que 23 profissionais, a quase totalidade de jornalistas, foram demitidos entre os dias 21 e 22 de janeiro. Some-se a elas o anunciado corte da gratificação de função paga aos subeditores e outras oito demissões promovidas no Departamento de Telejornalismo da TV Anhanguera, também de propriedade da empresa. Um processo que foi marcado por um clima de terrorismo sobre a redação do jornal por mais de um mês.
O que causa estranheza nessa atitude é que a Organização Jaime Câmara atravessa uma fase não só de total equilíbrio financeiro, mas com resultados surpreendentes – a ponto de a própria direção da empresa ter anunciado, ainda em setembro de 2009, que a OJC fecharia o ano com um lucro de R$ 55 milhões. Ressalte-se que esse número foi corrigido dois meses depois, já que os resultados apontavam que seriam mais de R$ 60 milhões de lucro.
Portanto, não há que se alegar crise financeira para justificar as injustificáveis demissões. Pelo contrário, nem mesmo durante a recente crise econômica mundial as finanças dos veículos da Organização Jaime Câmara chegaram a ser abaladas. O período foi superado com crescimento no faturamento, inclusive com o pagamento do Programa de Participação nos Resultados, a despeito do achatamento salarial imposto aos trabalhadores da empresa.
No caso específico do jornal O Popular, há que se destacar que a maioria dos jornalistas demitidos contava com mais de 10 anos de casa, alguns com mais de 20 anos. A primeira conclusão que se tira desse fato é que, no jornal O Popular, jornalista tem prazo de validade: quanto mais tempo de casa, mais perto está de perder o seu emprego. Demissões isoladas, ocorridas nos últimos cinco anos, vêm corroborar essa afirmação.
Outra conclusão que pode ser tirada desse processo de demissão em massa é que, para a Organização Jaime Câmara, a única coisa que parece importar é sua sanha por lucros incessantes – a qualidade do produto fica para segundo ou terceiro plano. E isso tem ficado bastante nítido nos comunicados da direção da empresa aos funcionários – o objetivo é, antes de tudo, garantir mais lucros aos acionistas da empresa. O que se estranha é que, piorando a qualidade do produto, já que não há profissionais em número suficiente para garantir no mínimo o mesmo tipo de jornalismo que vinha sendo feito pelo jornal O Popular, certamente as vendas cairão, anunciantes podem deixar de anunciar. Com isso, dificilmente será atingido o plano de metas da Organização Jaime Câmara para este ano, que aponta para um resultado de R$ 90 milhões de lucro.
Por todas essas razões, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam o processo de demissão em massa promovido no jornal O Popular e conclamam a sociedade a também se manifestar contrária a mais esse abuso cometido contra os trabalhadores.
Goiânia, 26 de janeiro de 2010.
Luiz Antonio Spada
Presidente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais no Estado de Goiás
Sérgio Murillo de Andrade
Presidente da Federação
Nacional dos Jornalista
Atualizações:
1 - Confirmei a informação - Foram 17 cortes na redação, a maioria, jornalistas, e mais seis serão anunciados na próxima semana.
2 - em 29.01.10 - Reproduzi, ao final, duas notas da coluna Imprensa, do Jornal Opção, a propósito de uma outra demissão em massa, ocorrida em 2003.
3 - em 30.01.10 - Três manifestações poéticas mostrando o impacto dos acontecimentos do dia 21 em quem os acompanhou ( e o clima reinante, como disse o Haroldo no seu comentário). A primeira, de próprio punho , as outras, primeiro usando Chico Buarque, e depois própria.
- Aqui, as consequências já perceptíveis na edição online.
4. em 31.01.10 - Exemplo dos problemas na edição online, mencionados em 3, acima: ontem havia dois artigos na edição impressa escritos por jornalistas da casa, um deles, de Deire Assis, com chamada na primeira página,sobre o sofrimento da mãe do garoto Murilo, desaparecido há 5 anos, segundo a denúncia do MP, morto por policiais militares. Nenhum dos dois está na versão online.
Nada de novo:
Da Coluna Imprensa, Jornal Opção, edição de 10 a 16 de agosto de 2003.
Passaralho no Pop 1
Em entrevista ao Jornal Opção na sexta-feira, 8, o diretor de Jornalismo da Organização Jaime Câmara, Luiz Fernando Rocha Lima, confirma a demissão de 12 funcionários de O Popular. “Como passa por uma fase de ajustes, adaptando-se ao mercado, a empresa decidiu conter custos. O mesmo ocorre na maioria das empresas de comunicação do país.” Rocha Lima conta que, além da redação, também foram feitas demissões na área administrativa. “Não há nada programado sobre novas demissões”, diz. Outras fontes apostam em mais demissões a médio prazo.
Entre os jornalistas afastados estão Luiz Otávio Soares (editor de Judiciário), Leonardo Razuk, Elisabeth do Prado, Nádia Timm e Martinez Pontes. Um operador de scanner, um operador de fax e uma secretária do Departamento Fotográfico também foram demitidos. Uma fonte do jornal garante que a chefia da redação enviou uma lista com 15 nomes para a direção de Jornalismo.
O Jornal Opção entrevistou Luiz Otávio na quinta-feira, 7. “Isanulfo Cordeiro [editor-chefe do Pop] alegou contenção de despesas e me disse que meu salário era alto. Continuo na assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça.” Aos 56 anos, Luiz Otávio trabalhou no Pop durante 26 anos. Ele tem um cartório.
O Sindicato dos Jornalistas divulgou uma nota condenando as demissões no Pop. Trecho do texto: “Há anos O Popular adotou a política de não substituir os jornalistas que por um motivo ou outro deixam a empresa, sob o argumento de evitar as demissões em massa que agora faz injustificadamente”.
A nota do Sindicato relata que não conseguiu negociar um novo piso salarial para a categoria e lamenta: “A manutenção dos postos de trabalho foi o principal argumento apresentado pelas empresas para nem mesmo discutir um índice para a reposição salarial. Agora, mesmo sem reajustes, trabalhadores são demitidos”.
Em seguida, o sindicato denuncia: “É preciso salientar, ainda, a falta de democracia interna dentro dos diversos veículos da Organização Jaime Câmara — entre eles a redação de O Popular. Demissões, remanejamentos e quaisquer outras medidas que afetam os profissionais são tomadas à revelia das categorias que compõem o quadro de pessoal da Organização. As demissões ocorridas, mais uma vez, foram decididas pela cúpula, sem que até mesmo os editores das áreas afetadas fossem ouvidos”. O Jornal Opção apurou que os nomes dos jornalistas foram passados para o diretor de Jornalismo pela chefia da redação, embora a política de contenção de despesas tenha sido estabelecida pelo comando da empresa.
Com os cortes, entre salários e obrigações trabalhistas, o Pop deve economizar cerca de 20 mil reais.
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Leia também Músicos goianos finalmente protestam, mas é contra a crítica -atualizado, onde tratei de restrições impostas a jornalistas na cobertura de música. E também o conto de Adalto Alves, É tudo mentira sobre uma demissão por conta da insatisfação de um músico, de família poderosa, com a crítica ao seu trabalho.
Olá Marcus, boa tarde!
ResponderExcluirEu já desconfiava que Hugo Chavez estava em Goiânia, mas não com tanta voracidade...
Haroldo
Boa tarde, Haroldo.
ResponderExcluirA diferença é que aqui o motivo alegado é a busca de re$ultado$. Se a redação já estava sobrecarregada, imagine agora...
Bom,
ResponderExcluirPelo menos um dos jornalistas demitidos tinha relações estranhas entre a empresa e o poder público. É no minimo constrangedor servir a dois senhores.
Deolinda
Deolinda,
ResponderExcluirEsta prática não é rara na mídia em Goiás.Ao contrário, é histórica e parece ser até encorajada. O duplo ( ou triplo) emprego aqui parece ser regra enão excessão, ao contrário de outros estados. Ao invés de ser vista como conflito de interesses, seria uma forma de garantir matérias junto às fontes(!!!). Além disso, compensa os baixos salários. Acabo de atualizar o artigo com duas notas da coluna Imprensa, do Jornal Opção, de 2003, quando houve outra demissão em massa. Veja que um dos demitidos era editor de judiciário e continuou no outro emprego, de assessor de imprensa do Tribunal de Justiça, além de ser dono de cartório.
Pois é ...Vai que foi esse o critério de seleção dos demitidos, se foi, parabéns para OJC.
ResponderExcluirPrezados,
ResponderExcluirCreio que o papel do Sindicato está sendo feito quando publicam uma nota de repúdio contra as demissões e cobram um ambiente democrático entre empresa e empregado(por mais estranho que isso possa parecer aos ouvidos comuns da plebe trabalhadora).
No exercício da profissão, eles atuam como se fossem inatingíveis e se gabam de falar direto com secretário X, com autoridade Y e com N pessoas próximas ao poder. Com raras e honrosas excessões que o jornalismo como um todo e em todos os lugares do planeta tem, o que vemos são pessoas imbuídas de um poder pouco administrado pelo próprio e quando eles se deparam com os problemas dos simples mortais, demissão por exemplo, fazem um escarceu danado, notas de repúdio, busca apoio na sociedade, aquela mesma em que ele pouco se lixou durante o execício da profissão de jornalista, e se descobre, por incrível que pareça, o mais comum dos mortais e de sua finitude.
O poder da informação é inquestionável, a necessidade da informação e possibilidade de recebê-la são fundamentais para a manutenção de uma sociedade democrática.
Mas nunca li nas páginas dos jornais de Goiás, principalmente nas organizações JC, nenhuma notícia que prevenisse o caos da CELG, a venda da Cacheira Dourada, O assalto à Caixego entre tantos outros casos escabrosos que qualquer jornalista das "honrosas execessões" faria e se a empresa, por uma questão econômica e de poder se negasse a publicar o caminho seria a de demitir da sua vida o jornaleco que desinforma e desqualifica o profissional e a sociedade.
A democracia que o sindicato cobra das empresas de comunicação na hora de movimentar a mão-de-obra representada por eles poderia ser também a cobrança das empresas e dos filiados no trato da notícia de interesse social antes do interesse econômico da empresa e de estabilidade do empregado.
Quem sabe, se agirem assim poderemos ver essa sociedade que quer o sindicato, consciente e pronta a agir sempre que chamada para coibir injustíças, não só pelo emprego deles, mas pelo emprego das pessoas da celg, seneago, caixego, de cachoeira dourada entre tantos outros empregos perdidos no silêncio das redações.
Wilmar Ferraz
Deolinda,
ResponderExcluirEu não tenho elementos suficientes para avaliar isso. Seria preciso ver caso a caso e ainda saber se continuam existindo pessoas não demitidas nessa situação. Melhor: a empresa teria que ter anunciado uma mudança na política de pessoal, oferecendo turno integral e melhores salários. Pela nota do sindicato, é o contrário...Como vc deve saber, quanto alguém é demitido sem justa causa, a empresa paga multa de 40% sobre o FGTS. Ou seja, quanto mais antigo o funcionário, maior a multa...
De jornalista que "ainda" está em O Popular, com quem conversei hoje: "o clima aqui na redação é de terror".
ResponderExcluirHaroldo
Haroldo,
ResponderExcluirDá pra imaginar, vendo a sobrecarga, pelas matérias assinadas: o (a) jornalista agora está acumulando a coluna do(a) demitido(a) com as reportagens que já fazia...
Marcus,
ResponderExcluirO que foi feito do comentário que eu fiz?
Ferraz
Ferraz, este é o primeiro comentário seu. Por favor, refaça o anterior que não foi registrado...
ResponderExcluirFerraz, houve algum problema no blogger. Acabei de achar seu comentário, aguardando para ser publicado. Liberei, mas ele ele entrou com a data e o horário originais. Tá lá em cima, no dia 29.A propósito, você colocou uma das questões essenciais para entendermos o que acontece hoje em Goiás. Um exercício interessante é imaginar o que aconteceria se as coisa fossem como você propõe...
ResponderExcluirMarcus,apenas um caso é do meu conhecimento e é público, de prestação de serviços a dois senhores, e como bem pontuou o Ferraz, descobrir que para ela também existe finitude, pode gerar muito barulho, todavia, para aquelas que perecem, executadas a tiros, só o silêncio da imprensa local. Quem sabe cumplice pela omissão da informação?
ResponderExcluirO critério usado pela OJC certamente não foi o de demitir por duplicidade de patrões e em um caso, apostaria, que marcado o juri popular, esperam que não sobre merda no ventilador da empresa. Afinal o assassinato brutal de uma jornalista por outro jornalista famoso na imprensa paulista transformou-se em um escândalo nacional, imagina, aqui, na província, a vitima sendo assalariada e doméstica?
Deolinda, continuo achando que a explicação é a que foi dada: demitiram os mais caros ( no sentido da despesa).
ResponderExcluirQuanto ao caso de São Paulo, até onde sei, excluindos os lances de poder, difererença de idade e relacionamento amoroso entre o assassino e a vítima, o que causou escândalo foi a constatação de que mesmo sendo réu confesso ele ficou fora da prisão usando os recursos legais disponíveis.
Até onde iremos com esse capitalismo selvagem? Um total desrespeito esse clima de demissões do Jornal. Um veiculo que cresce a cada dia. Só esperamos que não caia a qualidade em detrimento ao lucro desmedido.
ResponderExcluirMarcus,
ResponderExcluirE aqui, oito anos depois do fato, só agora foi marcado o Juri Popular (não é trocadilho), neste intervalo de tempo, com recursos legais, amizades poderosas e o silêncio da mídia, não amargou um dia sequer de prisão. Mas, consideremos, a vítima, pobre, doméstica, na nossa sociedade, nem é vítima, acaba nem existindo.
Deolinda,
ResponderExcluirInfelizmente, devo lhe dizer que não é preciso amizades poderosas, nem silêncio da mídia para que um processo dure esse tempo.Já falei acima sobre o Pimenta Neves.O sistema é assim: sem defesa, implacável. Com defesa, insuportavelmente lento (para as vítimas e a sociedade).Veja os casos com mais repercussão, como nos links, à direita, em Não Quero ser Mais Um, o caso do Pedro Henrique.
@Rafael,
ResponderExcluirDesculpe, o blogspot está com algum problema e seu comentário estava pendendente. Quanto liberei, entrou acima do da Deolinda. Tenho minhas dúvidas sobre o crescimento de que você fala. Já elogiei os "novos tempos" que o jornal viveu a partir de 2006, mas a coisa parece ter degringolado. Veja as atualizações que fiz no artigo. Por outro lado, a série desta semana sobre os presídios é um belo momento.