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13 maio, 2011

Túnel do tempo : enquanto o blogueiro não volta...

Parece que bati o recorde de ausência aqui: quase dois meses e meio, justo agora que, graças ao twitter, os posts tem atingido picos de leitura jamais vistos nos quase seis anos deste blog.

Provavelmente, cabe aqui o mesmo comentário que tenho lido sobre a Primavera Árabe: as ferramentas das redes sociais sem dúvida nenhuma ajudam, mas se não houvesse uma movimentação no mundo real, uma indignação sincera com a situação vivida pelo meio artístico ( assunto dos últimos posts), nem twitter, nem facebook trariam alguém aqui.

Enquanto me organizo para voltar a postar com regularidade, encontrei um artigo que esqueci nos rascunhos. Curiosamente, é o segundo de três e publiquei os outros dois. Vale a pena pois trata justamente da mobilização do meio artístico. É de 3 de novembro de 2006 (o segundo turno foi no dia 29 de outubro, entre Alcides Rodrigues e Maguito Vilela). Será que evoluímos nesses cinco anos?



Chamado à razão - Eleições: A cultura na Mídia Goiana 2

Uma semana após a publicação do artigo do repórter Rogério Borges (Chamado à Razão - A Cultura na Midia Goiana), o Popular trouxe, no dia 26, quinta-feira anterior ao segundo turno da eleição para governador, no caderno Eleições, uma matéria sobre a precariedade das propostas dos dois candidatos para a Cultura. A matéria, de autoria do também repórter do Magazine Renato Queiroz, tinha uma breve entrevista com os candidatos, um box com suas propostas e era encabeçada pelo texto Propostas Genéricas para A Cultura, escrito a partir de entrevistas com pessoas atuantes na área. Fui uma delas. Minha fala aparece no último parágrafo:
O produtor cultural Marcos Fidelis, do Fórum Permanente de Cultura, vai além [vários aspectos já haviam sido mencionados, entre eles: a desproporção entre a importância econômica e social da área, sua função na construção da cidadania e a atenção a ela dedicada pelos políticos; o atraso em que se encontra o debate do tema em Goiás, em relação a outros estados; a pouca mobilização e organização dos envolvidos] e diz que o grande problema é que não existe uma política cultural em Goiás com a definição de objetivos. A valorização dos eventos faria bem à imagem dos governantes, mas não resolveria por si as questões da área. “O que há são ações isoladas sem a integração entre União, Estado e Município. No setor cultural, ainda impera a política de balcão e por isso alguns artistas ficam temerosos em cobrar e apontar as falhas dos governantes e, no futuro, sofrer represália”, critica. Por sofrer com o “personalismo e o autoritarismo do administrador público”, Marcos acredita que uma previsão para o setor cultural só poderá ser feita quando for divulgado o nome do novo presidente da Agência Goiana de Cultura (Agepel). Este, sim, o grande protagonista do espetáculo.
Acrescentaria que essa situação se verifica:
1) a despeito de várias iniciativas dos artistas e produtores visando a construção dessa política. No caso do teatro, que conheço melhor, em documentos coletivos encaminhados à Agepel em 2003 e 2004. Houve o atendimento, parcial, a algumas das demandas, mas somente após o encaminhamento desses documentos ao Gabinete do Governador e a cobrança feita a partir dali.
2) A falta de integração também ocorre entre as ações empreendidas.
A propósito , enviei a seguinte mensagem à seção Cartas dos Leitores:
----- Original Message -----
From: marcus fidelis
To: leitor@jornalopopular.com.br
Cc: fórum
Sent: Thursday, October 26, 2006 6:12 PM
Subject: Matéria de hoje - caderno eleições
Senhor editor,

Parabéns pela matéria sobre as propostas dos candidatos para a cultura.
Esclareço ser o autoritarismo a que me referi uma característica observável cotidianamente nas ações de nossos gestores culturais. Algumas delas, inclusive, abordadas em matérias anteriores neste mesmo jornal.
O veto à construção democrática de uma política cultural é comum às duas forças políticas que disputam a eleição para governador. A administração estadual o faz por omissão e a administração municipal de Goiânia ressuscitando práticas da República Velha, a ponto de desrespeitar sentença judicial.
Discuto a questão em maior detalhe no texto Atitudes Diversas, Resultado Idêntico, Mesma Razão, disponível em www.entreatos.blogspot.com.

Atenciosamente,

Marcus Fidelis
Produtor Cultural

10 fevereiro, 2011

Lei Goyazes - SEFAZ ainda não efetivou compromisso verbal - 4 - No twitter

Enquanto escrevo, está acontecendo um tuitaço, com a hashtag     #leigoyazes, tentando finalmente conseguir que a SEFAZ regularize a tramitação dos processos de patrocínio pela lei, paralizados desde dezembro.

Não poderia haver meio melhor para a manifestação, já que foi no twiiter que o assunto surgiu, ganhou repercussão e teria sido prontamente resolvido, segundo o próprio perfil do governador @marconiperillo - tudo isso no dia 19 de janeiro. 

Nada foi solucionado, contudo, como tenho  mostrado aqui desde então.  Hoje, três semanas depois, a crise chegou às páginas de O Popular. Embora tenha tido chamada no alto da primeira página, a matéria não foi a capa do Magazine, que era outra matéria relacionada, ambas de Rogério Borges, dedicada às adequações necessárias para estado e municípios se integrarem ao Sistema Nacional de Cultura.

Na reportagem, o secretário da fazenda é sucinto: não liberou porque não há dinheiro.  Para saber como chegamos aqui, vale a pena percorrer alguns tuítes ao longo deste período.

Em resumo: a notícia apareceu primeiro no @tiaodonato, no dia 14. No dia 19, pela manhã, @pablokossa, que tem mais de 4mil seguidores, também deu a informação. A partir daí e ao longo de todo o dia, houve cobranças. À tarde, o @marconiperillo anunciou que depois de saber pelo twiiter do problema, havia determinado sua solução. Depois a Agepel divulgou uma nota, dizendo que tudo havia sido resolvido verbalmente com o secretário da fazenda.
Nos dias 2, 3 e 4, tudo continuava como dantes. Mais tuítes, surpresa do @pablokossa, novas cobranças, inclusive com retuítes de @fpulcineli e de @rogerioPBorges, repórteres do Popular, ele o autor da matéria de hoje. Nenhuma solução, embora o @pablokossa noticiasse que soubera que a solução sairia naquele dia.

São reveladores os tuítes do dia 19 - ensinam muito sobre os tuiteiros. Repare nos que detratam a gestão anterior, insinuando irregularidades - quando o que ocorreu foi justamente o contrário: acabaram com o clubinho.

Também importante é perceber a repercussão que podem conseguir os tuíteiros que tem aí seus milhares de seguidores, como é o caso do @pablokossa ou da @fpulcineli.

Agora, no tuitaço, novas promessas de solução, desta vez para amanhã... a ver.

Para ampliar as imagens, clique sobre elas. Como no twitter e nos blogs, estão em ordem cronológica decrescente.
























30 janeiro, 2010

Demissões em massa: O Popular e TV Anhanguera - Nova atualização

Fiz nova atualização no artigo.

04 janeiro, 2008

Novos Tempos, Um Novo Jornal 2 - continuação

A verificação das condições de unidades da Agepel teve continuidade no dia 5 de dezembro, quando a capa do Magazine foi ocupada por outra reportagem de Rogério Borges, desta vez tendo como assunto principal o Teatro Goiânia.
O Título do texto de abertura era Em Compasso de Espera, com subtítulo Mesmo Funcionando, Teatro Goiânia Necessita de Reformas e Equipes de Limpeza e Segurança. Projeto da Vila Cultural Deve Reformular Espaço. Outros dois textos compunham a matéria: Necessidade de Reformas Urgentes, e Consertos de emergência no Cererê.
Os dois primeiros textos comentam os problemas existentes no prédio e a necessidade de uma definição, em especial sobre desapropriações relacionadas aos recursos federais para a Vila Cultural, até o fim do ano ( que parece, não foi dada...). Há divergência entre os diretores da Agepel sobre como encaminhar a reforma ( ou reparos).
O último texto lista intervencões pontuais feitas no Martim Cererê após a reportagem anterior.

Para ler a reportagem, clique sobre a imagem, abaixo, e a seguir faça o mesmo na janela que se abrirá.

29 dezembro, 2007

Novos Tempos, Um novo Jornal 2 - A realidade dos fatos

Dia 29, em O Popular, em artigo sobre as demissões que o governo estadual anuncia para esta semana, Fabiana Pulcineli lembrou que desde julho o jornal aguarda informações a respeito, pedidas à AGANP. Reproduzi o artigo dela , à época (13 de julho), junto com o meu texto Novos Tempos, Um Novo Jornal , em que elogiei a nova fase do veículo.

Aproveito agora para comentar outra matéria, publicada pelo jornal no mês passado. Desta vez, quem mostrou a força do "Quarto Poder"na fiscalização dos governos foi a equipe do Magazine, seu segundo caderno.

Tudo começou com uma matéria da repórter Valbene Bezerra, publicada na edição de 6 de novembro. Fazendo um balanço do Festival Goiânia em Cena, promovido pela Prefeitura Municipal , em seis das 140 linhas ela comentou o estado em que se encontrava o Centro Cultural Martim Cererê, unidade da AGEPEL : "apesar da precariedade do local, abandonado à própria sorte desde que Carlos Brandão entregou o bastão para assumir o Goiânia Ouro, o Centro Cultural Martim Cererê foi palco da nova proposta de Hugo Rodas para Édipo...".

No dia 10, pela primeira vez vi uma correspondência da AGEPEL publicada na seção de cartas do jornal. Assinada pela assessora de imprensa da agência, Solange Franco, a carta dizia que diferentemente do que fora publicado na matéria "a agência Goiana de Cultura informa que o Centro Cultural Martim Cererê , uma de suas principais unidades, está funcionando normalmente, embora, para o momento, com um número menor de funcionários". O texto mencionava ainda as dificuldades orçamentárias enfrentadas pelo estado e a programação concorrida da unidade, não apenas naquele mês, mas também para os meses seguintes de dezembro e janeiro. Não foi publicado nenhum comentário da redação ou da repórter junto ao desmentido.

Surpreendi-me com a atitude da AGEPEL porque não se recorreu à prática usual da entrevista "ação entre amigos", em que quando há alguma crítica em um veículo, trata-se de conseguir uma entrevista amistosa em outro, logo em seguida, para rebater os argumentos contrários. Tratei disso em maio de 2006, no texto Dando o Serviço e em dois outros textos ( Entrevista "Ação Entre Amigos" pode ser crime e DM e Maguito multados por "Ação entre Amigos").

A resposta no entanto, não tardou, e veio em grosso calibre. No dia 21, na primeira página do jornal, a segunda manchete era do Magazine - SOS Martim Cererê - encimando uma foto que ocupava cerca de 1/4 da página, com a legenda "Mato invade cúpulas dos teatros Yguá e Pyguá do Martim Cererê, que entrou em crise com corte de despesas pelo governo estadual. A manutenção e a limpeza foram reduzidas e a segurança é precária e o centro cultural virou alvou de ladrões e abriga menos espetáculos". (veja ao final)

Na capa do caderno, em matéria que ocupou toda a página, assinada por Rogério Borges, outra foto do mato que tomava conta das cúpulas dos teatros do centro cultural ocupava a dobra superior , deixando uma coluna para a abertura do primeiro texto. Título: Marcas do Abandono. Subtítulo: Centro Cultural Martim Cererê tem manutenção precária, não conta com segurança e abriga menos espetáculos. A matéria tinha mais três fotos e um segundo texto: Artistas arcam com despesas. (veja ao final)

Fato relevante, no mesmo caderno, na página 3, veio matéria sobre o lançamento do TENPO, Festival de Teatro promovido pela AGEPEL, ocorrido na véspera e maior realização da agência na área.

A matéria não deixou pedra sobre pedra no desmentido da Agepel. Um ótimo exemplo do que é capaz a imprensa quando se dispõe a buscar a realidade dos fatos para contrastar com a versão oficial.

Que em 2008 e nos anos que se seguirem esse hábito salutar continue, em relação a todos os governos. São meus votos de um ótimo ano novo aos leitores do blog.



Sobre a situação do Cererê leia Cultura Zero 6 - Patrimônio Negativo, de primeiro de julho de 2007.



Para ler as matérias, clique sobre as imagens, abaixo, e novamente, na tela que se abrirá :


24 outubro, 2007

Encontrado esqueleto no armário do Minc

Breve Histórico

Dia 12 foi o aniversário de dois anos da fraude em que consistiu a III Conferência Municipal de Cultura (clique sobre conferência ao final do texto para ler a respeito). A situação poderia ter sido regularizada sem maiores problemas se a Prefeitura tivesse acatado a decisão judicial, cancelado a conferência marcada para aquela data e a realizado, com a devida publicidade, até o final de outubro, que era o prazo disponível se a quisesse válida para a Conferência Nacional de Cultura, marcada para 13 de dezembro.

A prefeitura preferiu outro caminho. Pediu e obteve do Presidente do Tribunal de Justiça decisão que tornou sem efeitos a liminar do juiz, para que pudesse participar da Conferência Nacional de Cultura. Decisão que na verdade teve o efeito contrário, pois a única forma de garantir essa participação era realizando uma conferência válida, devidamente divulgada. Havia porém um problema para provar isso: era preciso que o Ministério da Cultura confirmasse que a conferência tinha sido irregular e não tinha valor.

O Minc era um túmulo

Nos dois meses que se seguiram, não houve forma de conseguir que o Minc se manifestasse - telefonemas, cartas, e-mails, nada obtinha resposta. Simultaneamente, o Presidente do Tribunal de Justiça também não decidia sobre o recurso (agravo), que pedia que voltasse atrás em sua decisão anterior, mostrando que seu efeito seria o contrário do pretendido. Amparado nisso, o prefeito nomeou, em 28 de outubro, o novo conselho.

Uma semana decisiva

A posse foi na primeira semana de dezembro. Uma semana tumultuada. Na semana seguinte, seria realizada a Conferência Nacional de Cultura. No dia 6, terça-feira, o secretário de cultura faltou a audiência pública, na Câmara dos Vereadores, para a qual fora convocado. No dia 7, quarta-feira, empossou os novos conselheiros. No dia 9, sexta-feira, O Popular publicou uma matéria extensa, em que a Agepel dizia que não concordava com a realização da CNC por isso não organizara a participação do estado, e a Secult reafirmava o envio de delegados de Goiânia. A conferência começou no dia 13, sem eles. No dia 14, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça manteve, por unanimidade, a decisão do seu presidente que permitira a nomeação e posse do conselho.

O Minc se manifesta

Só em 24 de janeiro de 2006 , o Minc enviou um e-mail (veja aqui), confirmando o que já se sabia, pela ausência de delegados: que invalidara a conferência de Goiânia. Em 8 de junho , saiu a sentença definitiva do juiz, confirmando a anulação da III Conferência Municipal, o que tornou sem efeito as decisões do Presidente e do Órgão Especial do Tribunal de Justiça (leia aqui). Até hoje, porém, esta sentença não foi cumprida pela prefeitura, nem confirmada pelo Tribunal de Justiça.

O esqueleto encontrado


Durante todo esse tempo, continuou a busca pelo documento do Minc que invalidou a conferência, sem sucesso. Até a semana passada.

Numa visita pessoal ao Minc, foi possível, finalmente, obter uma cópia da Resolução nº 001/2005, de 9/12/05, com 4 páginas, que invalidou a III Conferência Municipal de Cultura.

Segundo o documento (leia aqui), a decisão foi a propósito de e-mail, enviado por Deolinda Taveira, naquele mesmo dia, relatando irregularidades e com cópia da matéria de O Popular daquela data. No dia seguinte, a decisão, foi comunicada à prefeitura de Goiânia (veja aqui).

(Não) a quem interessar possa

Já a remetente, até agora não conhecia o teor da decisão. Mais: o Minc não menciona os pedidos feitos anteriormente, nem que naquele dia, não foi só ela quem procurou o ministério - o presidente da FETEG, entidade que conseguira as decisões judiciais anulando a conferência, falou por telefone com vários funcionários e, como não obtivesse sucesso, enviou um e-mail no fim da manhã, com cópia da matéria de O Popular (veja abaixo). A FETEG também não recebeu cópia do documento. O Popular, aparentemente, também não recebeu cópia.

Novo esqueleto, teletransmitido para o armário da Secult


A prefeitura, que recebeu cópia no dia 10, não a divulgou, fazendo com que o Tribunal de Justiça, no dia 14, decidisse a seu favor, mas de forma totalmente contrária aos fatos.




Cópia do e-mail enviado pela Feteg ao Minc, no dia 09.12.05 :



Data: Fri, 9 Dec 2005 11:23:10 -0300 (ART)
De: "FETEG FEDERAÇÃO" Ver detalhes do contato Ver detalhes do contato
Assunto: para conhecimento e providências
Para: gabinete@funarte.gov.br, marciomeira@minc.gov.br

Olá Márcio Meira,
Enviei-lhe documentos via email, correio, fax e não obtive respostas até o momento. Falei na data de hoje ao telefone com varias pessoas de sua assessoria (Célia, Tania, Jaqueline/Salete) e também ainda não tive respostas à questão de Goiânia na CNC, já que o caso aqui está sub judice ....
veja a matéria publicada no jornal O POPULAR de hoje...

Visões distintas
Agepel evita mandar representantes oficiais à Conferência
Nacional de Cultura por discordar do método adotado
Rogério Borges

Está marcada para a próxima semana, entre os dias 13 e 16, em Brasília, a realização da 1ª Conferência Nacional de Cultura (CNC). O evento, promovido pelo Ministério da Cultura (MinC), é mais uma etapa para a elaboração do Plano Nacional de Cultura, que estabelecerá critérios e elegerá prioridades para o estímulo de atividades culturais em território nacional. Essa plenária nacional contará com os representantes escolhidos pelas unidades da federação em suas conferências estaduais. Essas conferências, por sua vez, são compostas por delegados eleitos em conferências municipais e intermunicipais. Tais reuniões foram realizadas na maioria dos Estados brasileiros nos meses de outubro e novembro.
A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico (Agepel), órgão que, juntamente com o Conselho Estadual de Cultura, estaria responsável pela realização da Conferência Estadual, optou por não promover o evento e só participará da CNC com membros convidados. “Discordo da metodologia e da sistemática adotada para essa conferência”, justifica o presidente da Agepel, Nasr Chaul. Ele sustenta que o modelo para o encontro se baseia em Estados cuja política cultural ainda é incipiente. “Não é o nosso caso. O que eles querem nós já fizemos”, afirma. Chaul chegou ontem de uma reunião do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Cultura e um dos assuntos mais debatidos foi justamente a CNC.
Divergências
Ele conta que há muitos Estados insatisfeitos com o encontro da próxima semana em Brasília e contesta dados que estão sendo veiculados na página do Ministério da Cultura na internet. De acordo com o site, apenas cinco Estados não teriam realizado conferências estaduais: Goiás, Maranhã, Mato Grosso, Roraima e Acre. “Esse dado está desencontrado. São sete ou oito Estados que não fizeram as conferências. Mato Grosso fez e São Paulo e Bahia não terão representantes na CNC”, assegura. O principal motivo para que a Conferência Estadual de Cultura não fosse feita este ano em Goiás são divergências entre o Ministério da Cultura e a Agepel, mas, segundo Chaul, houve outras razões. “Tudo foi feito muito às pressas. Fomos pegos no contrapé em vários pontos”, alega.
“Nós discutimos a questão com o Conselho Estadual de Cultura e chegamos à conclusão de que não havia tempo hábil para fazer uma conferência estadual de fato representativa”, explica José Eduardo Morais, diretor de Ação Cultural da Agepel. De acordo com o diretor, o Ministério da Cultura só informou a respeito da necessidade da conferência estadual à Agepel na segunda quinzena de outubro. “Eu e o presidente da Agepel, Nars Chaul, estivemos no ministério no dia 1º de novembro para discutir o assunto e só então conseguimos a proposta oficial para a Conferência Nacional de Cultura”, conta José Eduardo.
Ele pondera que a Conferência Nacional, em que cada Estado apresentará, por intermédio de seus representantes, suas propostas para o Plano Nacional de Cultura, é apenas uma fase de um processo que precisa de discussões mais amplas. “O ministério propõe um convênio com as secretarias estaduais de Cultura em que a CNC é um dos pontos. Há diversos outros.”
Contraproposta
A redação da primeira proposta, de acordo com Nasr Chaul, “era inaceitável”. A Agepel apresentou uma contraproposta do documento ao ministério, que a aceitou. “Mostramos que muitas das exigências que a União fazia nós já tínhamos cumprido, como a instalação de um Conselho Estadual de Cultura, de um Plano Estadual de Cultura e da implantação de um Fundo Estadual de Cultura. Tudo isso nós já temos”, afirma o presidente da Agepel.
O problema é que não existe um detalhamento sobre algumas propostas incluídas no documento. Em uma delas, há a previsão de um compartilhamento de projetos culturais, o que significaria financiamento conjunto. O temor da Agepel é de que, assinando o convênio com o Ministério da Cultura, a instância federal comece a eleger prioridades em nível estadual, tirando a autonomia do órgão local. “Esse é um protocolo que está sob avaliação da Procuradoria Geral do Estado, mas ele deve ser assinado”, informa. O convênio tem duração de um ano.
O parecer sobre o documento deve estar pronto no início desta semana. Com tudo isso, Goiás, em sua esfera estadual, ficará sem representantes na CNC. “Não tínhamos como fazer a conferência estadual antes de assinarmos o protocolo que está em análise. Além disso, a proposta prevê que as conferências municipais teriam de ser convocadas pelas cidades e essa mobilização é difícil”, justifica José Eduardo.
Secult
Já as prefeituras de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Pontalina e Piracanjuba enviarão à CNC 20 delegados ao todo, sendo 16 indicados pelo poder público e quatro representantes de entidades civis. Eles foram indicados durante a Conferência Intermunicipal de Cultura, realizada no dia 13 de outubro. A Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia (Secult), que organizou a reunião, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as inscrições dos delegados foram feitas no último dia do prazo, já que o resultado da conferência estava suspenso por liminar judicial. Esse resultado, aliás, permanece em discussão no Tribunal de Justiça de Goiás.
A assessoria da Secult acrescentou ainda que, na falta de uma conferência estadual, os nomes indicados na Conferência Intermunicipal podem representar o Estado na CNC, mesmo que isso contrarie o organograma estabelecido pelo Ministério da Cultura e que está no ar no site do órgão.
As conferências municipais, intermunicipais e estaduais de cultura devem contar com representantes de entidades culturais dos mais diferentes setores e com membros da sociedade civil. Além de Goiás, apenas Mato Grosso, Acre, Roraima e Maranhão não realizaram suas conferências estaduais. Membros do Conselho Estadual de Cultura podem ir ao evento, mas apenas como ouvintes.
José Eduardo minimiza o episódio. “As propostas que poderiam ser levadas à CNC podem ser enviadas depois. Além disso, não acredito que elas difeririam tanto assim das que já estão em curso dentro do Plano Estadual de Cultura”, alega. Chaul faz um alerta. “Tenho receio do que conferências estaduais no modelo proposto podem trazer. Seus resultados podem atropelar o trabalho que já fazemos, nosso planejamento de ações.” Ele também observa que a realização da Conferência Intermunicipal por parte da Secult deixou o panorama ainda mais confuso. “Não sabíamos direito se era uma conferência municipal ou intermunicipal.” Com tantas discordâncias, a CNC corre o risco de ser um fiasco e o Plano Nacional de Cultura, que seria implementado no último ano do governo Lula, não gerar resultado algum.
Fonte: Jornal OPOPULAR - 09/12/2005


NORVAL BERBARI Presidente da FETEG

05 outubro, 2007

Centro Cultural Oscar Niemeyer - As Curvas no Caminho

Por que Fechou?

O não funcionamento do Centro Cultural Oscar Niemeyer tem sido objeto de várias matérias na imprensa. O interesse é proporcional à dimensão da obra e da campanha publicitária que marcou sua inauguração, em março de 2006 - a ilustração da maquete era onipresente em outdoors e jornais.


Coube ao repórter Rogério Borges, do Caderno Magazine, de O Popular, a solução do mistério: o Niemeyer está fechado porque falta terminar de pagar a construtora, para que esta acabe e entregue a obra (leia aqui). Com isso, na melhor das hipóteses, o espaço deverá estar funcionando só dois anos após sua inauguração, em março de 2008. Seriam R$ 7,8 milhões atrasados, mais R$ 1,8 milhão por serviços adicionais a serem executados, somando 9,6 milhões e um custo total de R$ 62 milhões.

Os números divergem um pouco dos que me foram fornecidos pelo departamento financeiro da Agepel, no início do ano: o custo total seria de R$ 65 milhões, dos quais já haviam sido pagos R$ 58 milhões, restando pagar R$ 7 milhões.

A grande questão

Seja qual for o valor exato a grande questão é saber como o custo de uma obra pôde aumentar tanto? O preço final é quase o dobro do contratado em 2005 ( R$ 37,4 milhões), e mais de 5 vezes o preço divulgado em 2001 (R$ 12 milhões).


Justificativa da Agepel

Pedi à Agepel que explicasse o que ocorreu (leia abaixo). Segundo o arquiteto Marcílio Lemos, Gerente Executivo dos Centros Culturais e responsável pela obra na agência, é simples: os R$ 12 milhões originais foram uma estimativa para a contratação de Niemeyer - considerou-se 12 mil m2 de construção a R$ 1 mil o m2; um segundo orçamento, ainda sem o local definido e nem o projeto concluído, foi estimado para divulgação à imprensa - R$ 25,5 milhões; com a definição do local, a área construída aumentou para cerca de 18.000 m2 e nova estimativa foi feita - R$ 38 milhões; finalmente, acréscimos de serviços não contemplados no projeto arquitetônico levaram o valor total aos R$ 65 milhões.

Surpreende na resposta, primeiro, como diferenças da ordem de dezenas de milhões de reais são tratadas como se fossem milhares. Segundo, a divergência das informações prestadas com o divulgado pela imprensa. No site do governo estadual, o Goiás Agora, o valor de R$ 25 milhões apareceu no lançamento da pedra fundamental da obra, em outubro de 2003, no local definitivo. À época da licitação, em janeiro de 2005, o valor era de R$ 29 milhões. Na contratação, em março, chegara aos R$ 37 milhões, que passaram a R$ 41 milhões outubro e, finalmente, a R$ 60 milhões na inauguração, em março de 2006. Já no Diário Oficial, o valor começa em 22 milhões, em dezembro de 2004, sobe para 44 milhões em junho de 2005 e chega aos 65 milhões em agosto de 2006 (figura 1).



figura 1


clique sobre a imagem para ver os extratos publicados no Diário Oficial


C. C. Oscar Niemeyer - Diário Oficial


Qual é a área?

A área construída também varia de acordo com a fonte. Na resposta da Agepel, passa de 12 mil m2 para 18mil m2. Segundo o Popular, em matérias ilustradas com as plantas da obra, a área final era de 21,5 mil m2. O Goiás Agora, curiosamente, registrou 21mil m2 no início da obra e depois passou a marcar 17,9 mil m2. Mesmo considerando os números de O Popular, mais generosos, o aumento no custo da obra em relação ao aumento da área é impressionante (figura 2).





figura 3


clique sobre a imagem para ler a resposta da Agepel

Centro Cultural Oscar Niemeyer


Em busca de recursos

Sobre o custo, é importante lembrar que entre o convite a Niemeyer, em 1999, e o início da obra, em janeiro de 2005, passaram-se 5 anos em que era evidente a falta de recursos para construí-la, ao ponto de, em meados de 2003, já definido o local para a construção, anunciar-se que estaria em andamento um acordo com o Grupo Flamboyant, em que este a bancaria, abrindo mão de ação judicial em que pleiteava a anulação da doação da área ao estado, feita para a construção do Centro de Convenções (sic).

Em busca de um projeto

Quanto ao planejamento, primeiro anunciou-se que os projetos complementares estavam sendo concluídos em outubro de 2003. A seguir, em dezembro de 2004, para finalmente serem entregues em janeiro de 2005. Lembro que Agepel e Agetop fizeram a obra sem licença ambiental ( leia Crime Ambiental - Agepel e Agetop evitam processo por construção do Centro Cultural Oscar Niemeyer).

Encurtamento do prazo, alargamento do custo


Talvez uma pista para o aumento no custo esteja na redução do prazo previsto para a duração da obra. Em outubro de 2003, era estimado em dois anos. Em 20 de dezembro de 2004, o Goiás Agora mantinha a mesma previsão. Só no dia 8 de março de 2005 , no ínicio da execução, o prazo foi reduzido para um ano.

Enquanto a construção caminhava, o número de trabalhadores e seu horário de trabalho foram incrementados paulatinamente para cumprir esse prazo: em junho, 200 operários trabalhavam na obra; em outubro, 300 pessoas, trabalhando de segunda a sábado até as 22 horas e meio período aos domingos; em novembro, 400 homens, trabalhando 7 dias por semana até as 22horas; em janeiro de 2006 eram 450 homens, trabalhando 7 dias por semana, até as 21 horas.

Controle de qualidade

A pressa cobrou seu preço também na estética. Matéria da revista Projeto Design, ilustrada com belíssimas fotos, registra o preço pago: há imperfeição na curvatura do Palácio da Música, perceptível ao olhar mais apurado (clique aqui para ler). Quem desce a escadaria do Monumento aos Direitos Humanos tem que ficar atento para a diferença na altura dos degraus. Outra questão fundamental a ser esclarecida é se houve algum problema estrutural a motivar a redução no número de volumes do acervo previsto da biblioteca, de 300 mil exemplares em 2003 para 100 mil na inauguração, já que a área do prédio não foi diminuída.

Goiás e DF juntos

Coincidentemente, vive-se a mesma situação com outro projeto de Niemeyer - a Biblioteca Nacional de Brasília. Seu custo foi de R$ 42 milhões e ela permanece fechada, com o privilégio de ter sido inaugurada duas vezes: por Joaquim Roriz, em 31 de março de 2006 e por sua sucessora, Maria de Lourdes Abadia, em 15 de dezembro do mesmo ano, conforme matéria do mês passado, da Folha de São Paulo (leia aqui).

19 março, 2007

Cultura Zero? 4 - Qual é o número?

Na edição de ontem, o caderno Magazine, de O Popular, trouxe como reportagem de capa uma seqüência de entrevistas com várias pessoas do meio cultural, que expuseram suas expectativas quanto à gestão da nova presidente da Agepel.
A matéria é assinada por quatro repórteres extremamente profissionais e muito zelosos de seu trabalho, que têm atuado tanto quanto possível em áreas específicas : Edson Wander - Música, Rogério Borges - Literatura, Valbene Bezerra - Teatro e Artes Plásticas e Rute Guedes - Cinema. É de supor-se que cada um deles tenha colhido os depoimentos dos entrevistados de sua área de atuação principal. Por isso mesmo, não é possível entender qual o critério de escolha dos entrevistados. A princípio, imaginei que fossem os presidentes de entidades representativas, mas há depoimentos que não seguem essa regra. No cinema, por exemplo, entrevistou-se o presidente da ABD-GO Associação Brasileira de Documentaristas - SeçãoGoiás, um roteirista e uma jovem cineasta, mas não foi ouvido Eládio Garcia Sá Teles, presidente da AGCV-Associação Goiana de Cinema e Vídeo, entidade que lutou pelo edital de curta-metragens que ela menciona (que aliás não foi lançado no ano passado).
A matéria, no que tange à Política Cultural, embora seja um trabalho de fôlego, ao limitar-se a reproduzir declarações dá dois passos atrás em relação ao marco histórico estabelecido por uma outra, publicada no mesmo espaço, em 02 de abril do ano passado, de autoria de Edson Wander (leia Bravo).
Questão a ser esclarecida é o valor do orçamento da Agepel para este ano. A matéria menciona R$ 42 milhões, sem indicar a fonte. O valor que utilizei em meus artigos anteriores é de R$ 47,5 milhões, soma das parcelas constantes da coluna respectiva no documento Despesas Previstas 2006 a 2007 , entregue pela Agepel ao Ministério Público no dia 15 de janeiro (a soma no documento está errada - confira na tabela que elaborei).
Onde foram parar os outros R$ 5,5 milhões? O valor corresponde a mais da metade da despesa com pessoal da Agência no ano passado (dado que acabo de obter), que foi de R$ 10,3 milhões, e é equivalente à soma dos gastos previstos para este ano com o FICA (R$ 3,7 milhões) mais a TENPO ( R$ 1,8 milhões) (leia Cultura Zero).

07 novembro, 2006

Chamado à Razão: A Cultura na Mídia Goiana - 3

A matéria de O Popular que mencionei no segundo texto desta série teve desdobramentos na seção Cartas dos Leitores do jornal:
Cultura em Goiás
A leitora Deolinda Conceição Taveira Moreira foi muito feliz em sua carta sobre a matéria do jornalista Renato Queiroz sobre cultura. O que ela comentou é o que realmente acontece nos projetos culturais por este Brasil afora.
Os gestores culturais ficam presos aos seus amigos, como se a cultura girasse ao redor de grupos. Como a leitora comentou, quando alguém vai a uma festa e é convidado a tocar ou cantar, ou a expor seus quadros, o ganho é somente a divulgação.
Até parece que o artista não vive como todos os seres mortais, ou seja, não come, não se veste, não fica doente, não precisa de dinheiro. Nas mudanças de governo, sempre o que entra quer deixar a sua marca, aí vem outro grupo se esquecendo de que o projeto tem de ser sério e para todos.

DiMagalhães
Cidade de Goiás – GO
Temas culturais

A matéria Propostas genéricas para cultura, do jornalista Renato Queiroz, publicada neste excelente veículo de comunicação, é muito mais do que a área cultural está habituada. E reflete a ausência total de políticas públicas para a cultura em Goiás.
O agente público lembra-se da cultura quando decide dar uma festinha e convida um artista para tocar ou quer decorar seu gabinete e pede quadros para isso. Ora, o que será que o artista come? Vento?
A entrevista demonstra que todas as propostas estão direcionadas à cultura como lazer, esquecendo que é também fonte de renda e sobrevivência dos produtores, que pagam impostos, empregam outras pessoas e trabalham com capital especial – a criatividade humana.
Todavia aponto duas propostas: uma, o banco do povo cultural, que acredito ser bastante pertinente, e a segunda a do retiro dos artistas. A matéria, a meu ver, veio em boa hora.

Deolinda Conceição Taveira Moreira
Vila Nova – Goiânia

18 outubro, 2006

Chamado à razão - Eleições: A cultura na mídia Goiana

Reproduzo abaixo artigo do jornalista Rogério Borges, publicado hoje em O Popular, na página de opinião. Tenho reproduzido e/ou comentado trechos de matérias suas no Magazine e artigos de opinião. Complementos essenciais ao seu artigo são o de Eduardo Horácio, sobre a Política Cultural do Tempo Novo, Política de Eventos e a entrevista dele com Eládio Garcia Sá Teles, ambos na Tribuna do Planalto e a matéria de Edson Wander, também do Magazine, disponível no Overmundo, sobre Política Cultural. Os candidatos, caso se interessem, estarão bem servidos. As remissões ( links) estão ao final.




Um patinho feio chamado cultura


Nesta campanha eleitoral no segundo turno, assistir ao horário político tornou-se mais que um exercício de paciência. Transformou-se em prova de resistência para o estômago. As acusações e as comparações pipocam a cada segundo. É dinheiro de dossiê pra cá, é ameaça de privatização em massa pra lá; é um dizendo que o adversário é sombra do padrinho político, é o oponente respondendo que o rival adora prejudicar funcionário público. E assim a campanha passa, as propostas se perdem entre ofensas e insinuações e não conhecemos os reais intentos de quem deseja ser presidente ou governador.

Rogério Borges

Os nossos ilustres candidatos, eventualmente, quando não estão ocupados em avacalhar com o adversário, até falam em planos – muito genéricos, diga-se de passagem – para a saúde, a educação, a geração de emprego e renda. Mas já estamos na reta final da campanha e o eleitor não sabe, por exemplo, o que eles pensam sobre áreas como a cultura.

Cultura? Algumas pessoas podem até estranhar que um tema que geralmente não faz parte do cardápio principal de uma eleição seja lembrado aqui como uma área que mereceria uma atenção maior dos candidatos. Talvez esteja exatamente aí a raíz de muitos de nossos problemas. Talvez seja exatamente pelo descaso com que a cultura sempre foi tratada neste País que ele ainda precise conviver com debates políticos tão pobres e rasteiros, desrespeitosos com o eleitor, que se vê participando deste processo como mero coadjuvante, quando deveria ser o contrário.

No lamentável debate da TV Bandeirantes entre Lula e Alckmin, quando os dois faltaram se engalfinhar na frente das câmeras, com uma recíproca e intermitente “troca de gentilezas”, nenhuma sílaba sequer foi dedicada à questão da cultura. Será que foi porque essa área não exige um acompanhamento mais próximo, já que seria supérflua? Ou os candidatos acham que tudo está tão bem neste setor que não há mais nada a fazer para melhorá-lo? Quem convive com a cultura e quem a produz sabe que existe uma carência de políticas públicas para a área, no amplo leque de iniciativas que ela engloba.

O brasileiro lê menos do que deveria, milhares de cidades não têm sequer uma sala de cinema, faltam bibliotecas, peças de teatro viraram artigos de luxo, os museus estão às moscas pela falta do hábito em visitá-los. As manifestações folclóricas sobrevivem a duras penas, os grupos musicais da periferia têm dificuldade em mostrar seus trabalhos, os espetáculos de dança são raros e as exposições de artes plásticas são programas restritos às elites. Motivos não faltam para despertar o interesse dos homens públicos para a área, mas eles preferem se dedicar a programas de maior visibilidade, que tragam resultados mais imediatos.

Cultura é mesmo algo difícil de lidar. Exige sensibilidade, boas idéias, ações criativas, conhecimento de causa, paixão. Estes são predicados que estão diminuindo na classe política brasileira. E o maior sinal disso não é o fato de o presidente cometer erros de português ou ter pouca instrução. Quem pensa assim também não entende nada dos verdadeiros parâmetros culturais que, acima de tudo, são democráticos e não aceitam esse tipo nojento de preconceito de classe.

O maior sinal de que a cultura está ficando para escanteio é sua total e absoluta ausência no momento em que o debate político nacional atinge seu ápice. Essa desconsideração mostra que as preocupações de fundo cultural não são prioritárias para os candidatos, para o ex-metalúrgico inimigo das concordâncias e para o médico formado com discurso impecável e empolado. Nesse sentido, ambos demonstram se igualar na ignorância. Na ignorância do papel fundamental que a cultura exerce na formação de uma nação, na consolidação da democracia e na construção da identidade de um povo.

Quem não entende isso, não deveria se achar em condições de conduzir um país ou um Estado. Quem não enxerga a importância que tem a cultura a ponto de não lhe dedicar dois minutos no horário eleitoral gratuito, um minuto de uma réplica num debate, a exposição de uma única proposta para o setor em um comício, sinceramente, não deveria entrar na vida pública. Políticos que não reconhecem a cultura como fundamental para um povo, uma nação, têm muito mais chances de atrapalhar do que de contribuir. Sabemos que desemprego, filas em hospitais, falta de escolas, crise no campo e obras de infra-estrutura são temas primordiais e não podem ser negligenciados. Mas a cultura deveria ser encarada neste mesmo patamar de importância, o que não ocorre. E enquanto não ocorrer, estaremos fadados a, em todas as eleições, discutir os mesmos problemas, apontando as mesmas soluções retóricas, sem com isso mexer na base, no que verdadeiramente interessa.

Rogério Borges é repórter do Magazine
Leia mais:
Seis meses depois, o fim do anonimato - trecho da entrevista de Rogério com Paulo Mendes da Rocha
Highlanders - trecho da matéria de Rogério sobre a profusão de academias de letras no Brasil, em especial em Goiás
No Forno - reprodução de seu artigo A literatura e os diletantes - fundamental para entender o meio cultural goianiense
Seis meses depois - sobre a entrevista de Eládio Sá Teles na Tribuna do Planalto
Bravo!! - onde comento o artigo de Eduardo Horário e a matéria de Edson Wander

08 outubro, 2006

Seis meses depois, o fim do anonimato

O Popular de hoje traz, no caderno Magazine, entrevista com Paulo Mendes da Rocha, a propósito da realização do Congresso Brasileiro de Arquitetura, que acontece esta semana em Goiânia.

É a primeira vez que a imprensa goiana menciona o prêmio Pritzker, concedido a Mendes da Rocha no começo do ano, considerado a maior honraria da arquitetura mundial. À época, o assunto passou em branco, a despeito de algumas de suas obras mais importantes estarem em Goiânia. Escrevi a respeito, em 17 de abril, nota intitulada Ilustre anônimo.

Pouco antes havia sido inaugurado o Centro Cultural Oscar Niemeyer, onde acontecerá a abertura do congresso, com uma overdose midiática. Os dois arquitetos são os únicos brasileiros agraciados com esse prêmio.

Com essa entrevista, o Popular, que fez um caderno especial sobre o Estádio Serra Dourada sem citar uma única vez o autor do projeto, se redime com Mendes da Rocha. Num trecho imperdível da entrevista, o repórter Rogério Borges o questionou sobre a descaracterização de suas obras em Goiânia:
O senhor já viu essas suas obras [Estádio Serra Dourada, Jóquei Clube e Estação Rodoviária] hoje , aqui em Goiânia?
Ah, não quero ver. É como criança, você dá um brinquedo, o primeiro ela quebra, o segundo, ela compreende.


Como o senhor encara a descaracterização de suas obras?

Você pode dizer o que quiser até certo ponto. Eu tenho a impressão de que, quanto mais elas ficam visivelmente prejudicadas, rejeitadas, mais fazem ver que a essência do seu desenho queria dizer justamente aquilo que nós queríamos dizer. As coisas não podem ser assim.


E por que ocorre esse desrespeito pela criação do outro?

Antes de mais nada, o que você vê nesses casos é que a população é alienada em relação aos seus benefícios, seus direitos. Ninguém protesta. Um empresário isolado pode ter cupidez, desejo de multiplicar por cem o investimento, seu lucro, mas a população que desfruta daquilo podia se mostrar e dizer “pelo amor de Deus, isso não”. Então, você vê que o povo de fato não comparece na formação da estrutura política do desenvolvimento. Esse é um mal.
Assinante, leia a entrevista completa em O Popular.
A professora Christine Mahler, da Faculdade de Artes Visuais, da UFG, estudou em sua dissertação de mestrado - Aspectos da Modernidade na Cidade de Goiânia (1950 - 1960) - o Jóquéi Clube e o Estádio Serra Dourada, sob a perspectiva do patrimônio cultural.
Segundo o resumo do trabalho, " a situação atual de descaracterizações e grandes impactos sofridos revelam o desconhecimento por parte dos gestores locais acerca dos valores que se encontram contidos na obra edificada. Os resultados analisados demonstram a necessidade de uma educação patrimonial para proteger e evitar que tais situações mascarem ou destruam a História e a Memória de uma cidade. "
Quando escrevi minha nota, tentei entrevistar a professora, sem sucesso. Como registro, transcrevo as perguntas que lhe faria :
1) Como se deu a aproximação de Paulo Mendes da Rocha com a cidade?

2) Em sua dissertação, a senhora estuda duas obras dele na cidade, o Jóquei Clube e o Estádio Serra Dourada. Qual a importância delas nos conjuntos da criação de Paulo Mendes da Rocha, da arquitetura brasileira e de Goiânia?

3) Qual o estado dessas obras em termos de descaracterização e impactos sofridos, e qual a sua causa?

4) O caderno especial de O Popular em celebração aos 30 anos do Estádio Serra Dourada, publicado no ano passado, sequer mencionou o autor do projeto e seu valor arquitetônico. Há outras obras importantes existentes na cidade sem a devida valorização ou que estejam sofrendo ou possam vir a sofrer descaracterização?


5) Que propostas a senhora teria para se conseguir uma mudança de atitude e a reversão dessa situação?

7) Sendo os únicos brasileiros ganhadores do prêmio Pritzker, como a senhora situaria as obras de Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer?

6) Qual sua avaliação do Centro Cultural Oscar Niemeyer?

7) Como a senhora avalia a arquitetura praticada em Goiânia atualmente?

Mendes da Rocha fará a conferência final do congresso, no sábado, às 18:30, no Centro de Convenções.