A nota do MP sobre o pedido de providências à PM faz remissão a notícia publicada pelo Correio Braziliense, em 11 de maio do ano passado, denunciando a existência de um grupo de extermínio em Formosa - Homens fardados são responsáveis por 20% dos homicídios registrados em Formosa.
Encontrei uma outra matéria no site do jornal (que faz referência a mais material na versão impressa, vou tentar obter). Do dia 12 de maio - Mortes em série: oficial acusado de pistolagem, cuja introdução é: responsável pelo batalhão da PM em Formosa, onde policiais militares mataram 15 pessoas na gestão dele, Ricardo Rocha Batista responde por chacina de presos e execução de traficante em Rio Verde (GO).
A matéria traz entrevista com o comandante-geral da PM , ressaltando ( algo que na imprensa goiana dificilmente ocorreria) que ele não apresentou dados que corroborassem suas afirmações:
Antônio Elias alegou que não pode punir Ricardo Rocha porque o major ainda não foi condenado. Também em entrevista ao Correio, o major usou essa alegação em sua defesa. “Mas garanto que todas as denúncias contra ele (Rocha) e qualquer outro PM são apuradas por nossa corregedoria”, sentenciou, sem apresentar números de policiais militares goianos investigados e punidos. Ele ressaltou pautar pela legalidade. “Não vou aceitar formação de grupos (de extermínio) sob o meu comando.”
Os representantes do MP não deram entrevista. O jornal destaca o silêncio do Secretário de Segurança Pública:
Mais uma vez, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, foi procurado pela reportagem. Como ocorreu nos últimos cinco dias, ele se recusou a dar entrevista. Foi Roller quem nomeou Ricardo Rocha comandante do 16º Batalhão da PM goiana, em Formosa. A cidade é terra natal e base política de Roller, deputado estadual pelo PP e pretenso candidato a deputado federal por Goiás. O próprio já fez elogios públicos às ações de Ricardo Rocha à frente do batalhão de Formosa.
Neste mesmo dia, o Ministério Público divulgou nota sobre medidas tomadas pela Promotoria de Rio Verde, como registrado em seu site: Major da PM é denunciado por homicídio qualificado em Rio Verde.Não encontrei, contudo, qualquer referência à reportagem do Correio Braziliense.
Quanto à imprensa local, no dia seguinte, 13.05.09, registrou a ação do MP. Há no site uma nota curta publicada em O Popular - MP denuncia Major por homicídio - , do correspondente em Rio Verde, sem qualquer referência à reportagem do Correio Braziliense, destacando, contudo, que embora a divulgação tivesse ocorrido na véspera, a denúncia do oficial pelo MP ocorrera um mês antes, em 14 de abril.
Já a matéria do Diário da Manhã - MP denuncia comandante do 16º Batalhão de Formosa- foi bem mais completa. Fez remissão à matéria do Correio Braziliense, tentou ouvir a promotora de justiça responsável, em Formosa, que estava de férias, e trouxe a versão do major:
Reportagem do jornal Correio Braziliense, publicada ontem, informa que promotores e policiais civis de Rio Verde e Formosa investigam ainda outras 15 mortes ocorridas na cidade e atribuídas a seis policiais militares, que seriam comandados por Ricardo Rocha. Ele, em entrevista ao DM, nega as acusações e afirma que está sofrendo perseguição política.
(...)
Em entrevista ao DM, o major se defende e afirma que não é responsável por nenhum dos crimes de que é acusado e que estaria sofrendo perseguição política. “É uma perseguição política. Não tenho culpa, podem fazer uma pesquisa aqui na cidade. Vão perceber que os moradores gostam de mim”, afirma.
Rocha diz que não é pistoleiro e que vai provar sua inocência. Segundo ele, todas as ocorrências com vítimas se deram por confrontos com os bandidos e que nunca recebeu dinheiro como encomenda de matar os outros: “As acusações são falsas. O povo gosta de mim. Sou um policial coerente e transparente.”
O major informa que já recebeu título de cidadão rioverdense e medalhas por bom comportamento na corporação. “É injustiça o que estão fazendo comigo”, ressalta.
Depois disso, parece que foi o silêncio, tanto no MP quanto nos jornais locais.
Jornalistas com quem converso sempre mencionam a péssima cobertura do entorno do DF pela mídia goiana. Ao contrário dos políticos ( e do MP, que recentemente aumentou o quadro de promotores na região, apelidada de Faixa de Gaza) , a mídia local não dá a mínima para a área, cuja população é aproximadamente metade da que habita a grande Goiânia.
O mesmo não ocorre com o Correio Braziliense, que tem cobertura diária do entorno, cujos vínculos, exceto o fato de estar localizada em território de Goiás, são todos com o DF.
Pois há no site do jornal outra matéria, publicada quatro meses depois dessa reportagem de maio, em 18 de setembro, novamente tratando de Formosa, agora num caso de sequestro seguido de assassinato:
CRIME EM FORMOSA » Encontro de ossada reforça suspeita de ação de grupo de extermínio
(...) O local foi apontado por um dos acusados de envolvimento no caso, preso há três meses. Ele confessou o sequestro da vítima. Diz ter feito isso a mando de outra pessoa e com participação de um segundo homem, o autor dos disparos que teriam matado o produtor rural. As identidades são mantidas sob sigilo, mas agentes e delegados trabalham com a hipótese de participação de policiais militares suspeitos de integrar um grupo de extermínio.
(páragrafo em itálico indevidamente, por erro de formatação) Noutro trecho, a matéria faz remissão à reportagem de maio, destacando o apoio recebido pelo Secretário de Segurança Pública após a sua publicação e a continuidade de sua recusa em dar entrevista:
O motivo do sumiço de José Eduardo é um mistério. Agentes de Formosa descobriram apenas que a vítima tinha uma dívida de R$ 35 com outro fazendeiro da cidade, rica por causa da atividade agrícola. Há três meses, grandes produtores rurais lideraram uma manifestação em favor da PM e do secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller. Deputado estadual pelo PP, ele se recusa a dar entrevista sobre a matança em Formosa, sua terra natal e base eleitoral.
( o trecho abaixo está indevidamente em itálico: não consegui alterar a formatação )
Mais uma vez, até onde sei, notícia não mencionada pela imprensa goiana. Com essa discrepância na cobertura, não é de impressionar o impacto causado pelo caso dos desaparecimentos em Luziânia, que ganhou destaque na imprensa nacional: desta vez, foi impossível simplesmente ignorar o entorno.
Felizmente o MP, ainda que com dez meses de atraso, agora chamou a atenção para este novo velho caso. Pior para a mídia local, que já cobriu muito mal as greves da polícia civil, e praticamente ignorou a Conferência Nacional de Segurança Pública, no ano passado: fica mal na fita, de novo.
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