16 fevereiro, 2010

Abusos no carnaval de rua em Goiânia - da polícia - Atualizado

No ano passado, publiquei uma série de artigos sobre a Marcha da Maconha. Alguns deles, sobre os abusos cometidos no cumprimento da ordem judicial que, a pedido do MP, proibiu a passeata em Goiânia.


Quando houve uma segunda tentativa de realizar a passeata, quase um mês depois, novamente proibida, perguntei:


O MP já tomou alguma medida em relação aos abusos
cometidos no dia
2? E se houver outros hoje?


Como a segunda proibição - e a repressão à primeira tentativa - levou os organizadores a cancelar a passeata, não houve chance para novos abusos naquele dia.


No entanto, parece que o MP não fez nada a respeito. Só num ambiente de total ausência de controle da atividade policial - atribuição do Ministério Público - e certeza de impunidade para acreditar no que aconteceu na sexta-feira, no encerramento do carnaval de rua de Goiânia.
O episódio é descrito na carta, abaixo, escrita pelo ator e músico Abilio Carrascal, ex-professor da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, que desde domingo circula pela internet (grifos meus):



Domingo, 14 de fevereiro de 2010



Carta de Descontentamento Pelas ações da Polícia Militar do Estado de Goiás


Devido a vários fatores, Goiânia não tem uma tradição nacionalmente significativa de carnaval de Rua.


Mesmo assim, uma série de artistas se mobiliza para instituir um carnaval digno e bonito na nossa capital.


Acontece que há muito tempo essa classe suspeita de que o poder público, por alguma razão, apóia precariamente e não promove nosso carnaval de rua.

Na sexta feira passada, na avenida araguaia, ao lado do mutirama, após o show do grupo De Volta ao Samba, mais ou menos meia noite e meia (ou seja, já no sábado), os policias se posicionaram em frente ao palco. Policias “a pé” e cavalaria, sob o comando do tenente Sampaio, porém SEM IDENTIFICAÇÃO individual, e incitaram os foliões a se dispersarem do local.

O fato é que foi muito rápido. Era impossível liberar o local em 5, dez minutos que fosse, e também não há justificativa, vejam bem... NÃO HÁ JUSTIFICATIVA, para o local ser evacuado tão rápido. E se houver, convido as autoridades a nos apresentar.


Algumas pessoas tentaram fotografar e gravar, mas tiveram seus equipamentos furtados pela polícia e destruídos.

Após vários foliões, a grande maioria amigos, serem agredidos com spray de pimenta , cacetetes de borracha, golpes de cavalos, e imobilizações corporais, fomos em forma de protesto, imediatamente ao 1º DP, prestar uma queixa coletiva. A polícia ainda estava tentando reprimir a nossa ação, utilizando de truculência na forma de dirigir as viaturas, bombas de efeito moral, e vários insultos verbais.

É triste trabalharmos com cultura em uma cidade onde somos confundidos por marginais, arruaceiros. E somos espancados sem nenhum motivo, por uma instituição que inicialmente contávamos para garantir a paz, a ordem e a segurança neste evento. E foi a causadora da desordem, insegurança e da agressão de natureza física, verbal, e principalmente moral.


Temos que mobilizar a sociedade para agir. Formar opinião e buscar nossos direitos. Chega de abaixar a cabeça e encarar a polícia apenas como “autoridade”, pois ela deveria ser a segurança do cidadão.


Lastimável.

Repasse para os amigos que valorizam nossa cultura, e nosso direito de termos uma segurança pública mais digna e mais bem preparada.

Abilio Carrascal

Na mídia

Tanto O Popular quanto o Diário da Manhã noticiaram a ação da PM em suas edições de domingo, dia 14. Este, com mais detalhes, como mostra o trecho, abaixo, da matéria Estudantes e foliões reclamam de violência policial :

A alegria e tranquilidade da primeira noite de desfiles dos blocos de rua na Avenida Araguaia terminou com repressão policial. Após a apresentação do grupo De Volta ao Samba, uma barreira de contenção foi formada pela cavalaria da Polícia Militar em frente ao palco. Participantes foram agredidos com coronhadas e spray de pimenta. Cinco pessoas acabaram detidas por desacato. A PM afirma que os policiais reagiram a um copo de cerveja lançado contra um soldado.

Segundo os participantes do evento, ao final do show uma das anfitriãs agradeceu a presença das pessoas e se despediu, enquanto os policiais se posicionavam. De acordo com o advogado Gregório Alexandre de Castro, 34, um dos presos acusado de desacatar a autoridade policial, os policiais nada disseram aos participantes do evento. Preocupados em desocupar o local, os policiais partiram para o público com spray de pimenta e cassetetes.

O arrastão promovido pela Polícia Militar deixou pelo menos 20 pessoas feridas. Gregório, por exemplo, foi a vítima com maior escoriações. Após ser preso, ele foi encaminhado ao 1º Distrito Policial, onde desmaiou. Foi levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e ficou constatado traumatismo craniano moderado. Ainda na madrugada, ele foi transferido para o Hospital Neurológico.

(para ler a íntegra, clique sobre o título, acima)

O Popular publicou uma matéria curta, mas com destaque, PM acusada de agredir com violência - cujo link para os assinantes na versão online não funciona, reproduzida abaixo, onde além da redundância no título, há divergência entre o texto que diz terem sido cinco detidos (igual ao DM) e o subtítulo, que diz serem feridos (vinte, segundo o DM):

Clique sobre a imagem para ampliá-la


Já O HOJE não deu nada. Pelo contrário, sua manchete principal (abaixo) naquele dia era uma matéria (provavelmente preparada durante a semana, como é rotina nos jornais) tratando da prática generalizada do bico na polícia militar de Goiás. O bico era o gancho para o tema - a proposta de emenda constitucional que pretende estabelecer um piso salarial nacional para policiais (foi por conta da desobediência pela prefeitura de Goiânia à proibição desses bicos na AMT que houve a tragédia no caso Pedro Henrique).

O principal entrevistado é o major e suplente de vereador em Goiânia Júnio Alves, presidente da Associação dos Oficiais da PM e Bombeiros. O major recebeu apoio do deputado Mauro Rubem, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, no ano passado, num episódio de conflito com o comando da PM ( ignorado pela imprensa).Coincidentemente, Mauro Rubem é um dos entrevistados na matéria do DM, acima.

Leia também Abusos no carnaval de rua em Goiânia - da polícia - 2


Atualizado em 16.02.10 - Acrescentei o tópico Na Mídia.


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