31 janeiro, 2009

Desastre Ambiental - Usina de Espora - 20 - Um ano depois

Um ano após o desastre ambiental na Usina de Espora, o blog publica artigo do engenheiro Alan Kardec de Assis Carvalho, consultor em Conservação de Energia, Engenharia e Projeto para Aplicação de Energia Solar , funcionário aposentado de FURNAS, onde trabalhava na área de produção.

O artigo esclarece a causa do acidente e denuncia irregularidades na forma como vem sendo conduzida a reconstrução da usina.

Complementando o artigo, fotos tiradas na visita à usina feita pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, em abril de 2008, de autoria do fotógrafo Hedmilson Ornelas.



HIDRELÉTRICA DE ESPORA – UM ANO DEPOIS


Neste 30 de janeiro será o primeiro aniversário do maior acidente de rompimento de barragem ocorrido no Brasil e que, passada a repercussão inicial, caiu no esquecimento, inclusive das suas vítimas. Trata-se de uma barragem com 50 m de altura máxima, 1500 m de crista, suportando atrás um reservatório com cerca de 28 km² de área x 25 km de extensão e guardando 300 milhões de metros cúbicos de água*, dos quais 200 milhões (volume útil) escoaram pela brecha aberta na ombreira esquerda, junto à estrutura do vertedouro. Durante pelo menos 50 horas, a vazão normal de 50 m³/seg transformou-se numa avalanche que atingiu algo como 1000 m³/seg que varreu as margens do pequeno Rio Corrente, no Sudoeste de Goiás, desde o local até a foz no Rio Paranaíba, quase 200 km abaixo. Neste trajeto ficou um rastro de destruição: lavouras, gado, fazendas e suas benfeitorias, pontes, estradas, mata ciliar e sua fauna....

O noticiário da época, principalmente o televisivo, foi manipulado. As informações divulgadas tinham como fonte a Operadora da Usina, que atribuía o acidente ao excesso de chuvas, que teria provocado o transbordamento e a ruptura da barragem. Porém os laudos técnicos que embasaram as ações do Ministério Público (Estadual e Federal) e o material fotográfico colhido deixaram evidente que não houve transbordamento e sim falha técnico-construtiva, dando origem a pequeno vazamento e, tratando-se de barragem de terra, a consequente erosão e a brecha crescente por onde escoaram os milhões de metros cúbicos de água do reservatório e o desastre.

A ação ajuizada pelo Ministério Público encontra-se parada na Comarca de Itajá-GO. A Operadora - ESPORA ENERGÉTICA S.A. - alega estar fazendo os levantamentos com a seguradora e outros expedientes protelatórios para, talvez, um dia reparar os danos ambientais, reconstruir pontes e estradas e indenizar os prejuízos a particulares.

A Operadora tem na retaguarda a sua empresa holding, o GRUPO J. MALUCELLI, do Paraná, ao qual pertence também a mídia televisiva do Estado e tem ainda um forte lobby político no Estado de Goiás. Assim, chama a atenção o fato de a Agência Goiana do Meio Ambiente (AGMA) ter dado a licença ambiental para as obras de reconstrução sem o pré-requisito dos reparos dos danos ambientais, dos serviços públicos e das perdas dos ribeirinhos.

No processo de reconstrução resta ainda esperar que a ESPORA ENERGÉTICA S.A. cuide melhor da qualidade do projeto e do controle da sua execução pois todos têm a perder: ela está comprando energia para cumprir os seus contratos; a economia da região está abalada pelas pontes e estradas destruídas; os ribeirinhos ainda contabilizam as suas perdas e continuam sem perspectivas de ressarcimento.


* um metro cúbico equivale a mil litros.

Alan Kardec de Assis Carvalho – Engenheiro
Uberlândia-MG- akjatai@yahoo.com.br

Canteiro de obras da usina, à época da construção:



A mesma área, em abril de 2008:








5 comentários:

  1. Olá Marcus,
    Você sabia que serão construídas muitas usinas em Goiás? O impacto será terrível. Parabéns pelo blog.(lisandro)

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  2. Pois é, Lisandro, vi no Popular uma matéria a respeito.Não me lembro se a matéria comentava, mas tem uma que vai afetar aquela região de que você gosta tanto, na divisa do Tocantins com o Maranhão. Chama-se Estreito e a previsão de enchimento do reservatório era em julho de 2010 (http://www.jornalpequeno.com.br/2007/2/5/Pagina50354.htm) . Talvez valha a pena programar uma viagem antes disso... Em Porto Nacional, você deve saber, a Usina de Luiz Eduardo Magalhães acabou com a praia e a famosa temporada de julho, tão comentada em Goiânia quando a UFG tinha o campus avançado lá(http://www.correiocidadania.com.br/content/view/753/)...Muito obrigado pela visita e pelo elogio, procurarei continuar merecendo.

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  3. Olá.

    Assisti por acaso auma reunião entre alguns tecnicos de uam empresa de fiscalização de barragens e os representantes da Espora(Eng. Ivan), é assombroso como a barragem continua sendo construida com as mesmas falhas, o assunto em questão é apenas um, economia e pressa.. resultado.. a barragem de Espora, devido à erosão hidraulica natural, romperá novamente, prazo pra isso.. 4 anos..

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  4. Conheço bem aquela terrinha. o maior prejuizo serão as cachoeiras.

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  5. Ana, suas preocupações ressaltam como este assunto não tem recebido atenção correspondente à sua importância, em Goiás.

    Você teria como passar mais detalhes? Se preferir, use meu e-mail: marc_fid@yahoo.com.br
    Obrigado.
    Marcus

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