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24 outubro, 2006

Em boa companhia

Luis Nassif, em sua coluna econômica de hoje, A Nova Era da Comunicação, identifica na repercussão do episódio das fotos do dossiê um marco na democratização da informação no Brasil, como eu havia apontado em A tecnologia revoluciona -a província nunca mais será a mesma. Confira um trecho da coluna:
Os fatos foram denunciados na reportagem de Raimundo Pereira na “CartaCapital”. Através dela, se fica sabendo da existência da gravação da conversa do delegado com os jornalistas.

Em outros tempos, o assunto morreria por ali. Não haveria repercussão da reportagem, e a gravação do delegado no máximo circularia por algumas redações de forma quase clandestina.

O advento dos blogs e da Internet inverteu a lógica. Em pouco tempo, a matéria de Raimundo passava a repercutir em vários blogs. Os leitores passaram a descarregar a ira contra a encenação na parte de comentários. A repercussão foi tal que obrigou o jornalista Ali Kamel, porta-voz da Globo, a sair a público defendendo a emissora.

Nos anos 80 a denúncia de desmandos jornalísticos sairia por outro órgão da mídia. Em 2006, houve um pacto tácito que juntou grandes jornais, revistas e grandes emissoras de televisão, de homogeneização da opinião, de redução do contraditório, de diminuição do espaço crítico. Não se percebeu que a tecnologia estava mudando tudo.

Foi esse pacto que, no fundo, acabou impedindo a oxigenação do debate e abriu um espaço extraordinário para os blogs. As eleições de 2006 marcam definitivamente o fim do poder absoluto da grande mídia sobre o mercado de opinião brasileiro.

22 outubro, 2006

Atitudes Diversas, Resultado Idêntico, Mesma Razão

Na nota anterior, indiquei um documentário disponível no YouTube. O vídeo usa o termo Tempo Velho, consagrado desde as eleições de 98, ao referir-se à administração do PMDB na Prefeitura de Goiânia.

É importante lembrar, contudo, no que toca a conferências de cultura, que o Tempo Novo também está em débito, embora por omissão. Sobre as ações da atual gestão municipal, basta consultar a nota anterior, ou o arquivo deste blog.

Já quanto à não realização da Conferência Estadual, a Agepel alegou, em matéria de O Popular, em dezembro passado, que discordava dos termos do protocolo que deveria ser assinado junto ao Minc e por isso não a realizara. Ficamos na companhia de outros 4 estados: Amazonas, Pará, Rondônia, Sergipe e São Paulo, mais o Distrito Federal. Com uma grande diferença: em todos esses outros estados houve conferências municipais, ou seja, eles escolheram representantes para a Conferência Nacional de Cultura e, principalmente, discutiram a questão cultural local (em Goiás, registre-se, aconteceu uma única: em Valparaíso). O estado de Roraima, que também não havia realizado sua conferência em 2005, o fez este ano. Mesmo estados administrados pelo PSDB, como Minas Gerais, não viram problemas em aderir ao Sistema Nacional de Cultura e fizeram suas conferências.

O processo das conferências foi perfeito? De forma alguma. A divulgação foi ruim, houve inúmeros problemas. Mas fomos tolhidos na possibilidade de participar, como coloquei em meu comentário, publicado na matéria Saberes e Quereres, da edição de 20 de setembro de Carta Capital: "Como fazer com que esse discurso avançado chegue aos rincões do Brasil? Que mecanismos a sociedade vai ter para se vncular à política nacional se os governos municipais e estaduais colocarem obstáculos, por divergências políticas?".

O mais grave, no caso de Goiás, é que o então governador e o presidente da Agepel ao que tudo indica tiveram acesso às informações sobre as conferências em primeira mão, pois estiveram com o Ministro da Cultura no dia 24 de agosto de 2005, e a portaria 180, que as regulamentou , é de uma semana depois, dia 31 . Tanto é assim que na ocasião o então governador se comprometeu a criar a Secretaria Estadual de Cultura (exigência do protocolo), conforme noticiei em Primeiro Passo , inclusive reproduzindo a foto do encontro. A mesma notícia apareceu depois no site da Agepel.

Nos dois casos, município e estado, embora absolutamente diversos os procedimentos, um mesmo efeito: o boicote à participação da sociedade na formulação das políticas públicas. Na sua origem, uma cultura política autoritária, a provar que o enorme desenvolvimento econômico de Goiás nas últimas décadas não teve correspondência em matéria de política.

A tecnologia revoluciona - a província nunca mais será a mesma

Na última semana a cobertura das eleições esquentou na internet. O motivo: a matéria de capa de Carta Capital, denunciando a omissão, pela mídia, das condições em que haviam sido obtidas as fotos do dinheiro apreendido no escandâlo do dossiê.

Intensa na internet, a polêmica foi pouco repercutida na mídia convencional. Quem veiculou a discussão foram os blogs, como informa a matéria As reações, Desiguais, na edição da revista que circula hoje em Goiânia ( a coluna de hoje do Ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, também trata do assunto).

Finalmente a internet mostra sua força nas nossas eleições. A pouca atenção dada à internet pelos políticos brasileiros foi assunto de vários artigos na imprensa, constrastando esse descaso com a revolução que seu uso provocou nos Estados Unidos, na eleição de 2004.

A dirença de abordagem justifica-se porque as estatísticas de uso da internet aqui e lá são opostas: enquanto nos EUA , no primeiro semestre de 2006, 73% da população adulta eram usuários, aqui, em agosto/setembro de 2005, 67,76 % da população total nunca a haviam acessado.

O que provocou essa revolução? Sem dúvida alguma, desempenhando um papel preponderante, os blogs, que se popularizaram a partir de 2003, com a compra do Blogger pelo Google (havia então cerca de 200.000 blogueiros). A tecnologia permitiu que qualquer pessoa facilmente torne o que lhe interessa público, na rede ( para o bem e para o mal). Não é mais preciso estar no jornal para ser real. A imprensa não tem mais o monopólio do registro.

Como disse Mino Carta (Assalto à Verdade Factual) em seu blog, citando Hannah Arendt, sobre a verdade factual:" omitida, soçobra igual a barco furado, nunca mais será recuperada." E ainda " Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece, e que acontece porque é”.
A cobertura do escândalo da III Conferência Municipal de Cultura, em especial por este blog e pelo amigosdosmuseus, é um exemplo disso. Complementamos a imprensa local e, no aspecto investigativo, fomos além dela.

Depois dos blogs, agora é o Youtube se populariza ( e acaba de ser comprado pelo Google...). E é no Youtube que está um documentário bem-humorado sobre a conferência.