O título da primeira matéria é muito feliz e resume a questão: Cultura predial. Junto com os eventos são os prédios que aparecem como prioridade das administrações, num ambiente de ausência de política cultural, como é o nosso. Ambos dão visibilidade, objetivo único da mentalidade estreita que só enxerga repercussão eleitoral imediata.
Veja-se em sentido contrário à situação descrita pela reportagem, de espaços construídos sem planejamento prévio, sem uma política de fomento à produção que os ocupe, o caso do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.
Inaugurado em outubro de 2000, o CCBB mudou o panorama da programação cultural em Brasília. Tem um teatro com 300 lugares, duas salas de exposição e um cinema, abrigados no prédio onde funciona a diretoria de gestão de pessoas do banco, projeto de Niemeyer - mas aqui tamanho não é documento: importa a qualidade, a continuidade e a variedade. Abriga mostras de cinema, exposições, shows musicais, peças teatrais e atividades literárias, entre outros, escolhidos através de seleção pública de projetos.
Em 2005, foram 80 atividades, a um custo de R$ 11 milhões ( média de R$ 137,5 mil por atividade). A previsão em 2006 era de um investimento de cerca de R$ 8 milhões, para cinquenta atividades (média de R$ 150 mil por atividade). Esses, os custos com a programação do espaço, para garantir sua movimentação. Não entram na conta os custos fixos (estrutura, funcionários, limpeza,etc.) nem aqueles que variam com as especificidades de cada projeto (tamanho do projeto, tempo de permanência, número de pessoas envolvidas e divulgação, etc., ).
É evidente, a partir desses dados, como o custo de instalação de um equipamento cultural é uma fração do custo necessário para mantê-lo cumprindo seu papel a contento, o que justificaria sua existência ( em outras áreas não é diferente, imagine-se um hospital, por exemplo).
Compare-se esses valores com o que será gasto com a construção da Casa de Vidro ( R$ 3 milhões) ou a Vila Cultural ( R$ 11,7 milhões), ambas com recursos oriundos de emendas ao orçamento da União. Junte-se o Niemeyer ( mais de R$ 65 milhões), o Goiânia Ouro ( R$ 2 milhões, segundo reportagem de O Popular sobre a inauguração, em 21.06.06) e o CETE, de custo não sabido.
O Goiânia Ouro, que completou dois anos recentemente, é um caso à parte. Na inauguração o Popular informou que o custo de implantação teria sido bancado pelo proprietário, em troca de um aluguel de R$ 13 mil à época ( atualmente R$ 16 mil, segundo a reportagem de Edson Wander). Os R$ 2 milhões, corrigidos pela poupança teriam rendido R$ 322 mil. Dois anos de aluguel, ao preço atual, dariam R$ 384 mil. Ou seja, o aluguel mal compensou o rendimento que seria obtido com a aplicação do dinheiro usado na reforma, o que faz do proprietário o maior mecenas de que se tem notícia em Goiás, quiçá no Brasil.
Em todos os casos, mais despesas fixas a consumir recursos que poderiam estar sendo investidos diretamente no fomento aos artistas ( confira a despesa com pessoal do Goiânia Ouro e o impacto do Niemeyer sobre o orçamento da Agepel).
Infelizmente, cada nova notícia só confirma o que eu disse a propósito do Niemeyer : pagaremos, com o que nunca tivemos, o que ninguém nos perguntou se ou como queríamos.
Cultura Predial
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Atualização em 11.03.09 - mudei a forma de visualização dos documentos.
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