22 dezembro, 2008

Para uma história do Viaduto da T-63 - 5 - Uma reportagem diferente- 1ª parte

TRINCHEIRA-VIADUTO DA T-63 COM 85 PROVOCA DESCONSTRUÇÕES

Obra iniciada há quatro meses tem provocado prejuízos para comerciantes, desgosto em moradores e preocupa especialistas

Nádia Junqueira, estudante de jornalismo - Goiânia, setembro de 2008.

Quinta-feira, manhã de 8 de maio, avenida T-63, próximo ao antigo chafariz. O comerciante Romero de Castro, 41 anos, que trabalha na loja “Vidrão” de vidros e acessórios para automóveis, viu sua loja cercada por tapumes para iniciar uma obra, sem que lhe fizessem nenhuma consulta. Seus 15 anos no ponto perderam autoridade diante da obra do viaduto-trincheira entre a Avenida 85 e T-63 de mais de 20 milhões de orçamento. Desde então, sua loja está repleta de poeira, de dívidas com uma decaída de 80% nas vendas, demissão de funcionários e nome sujo na praça. A situação para o comerciante Rui de Oliveira, da relojoaria Tempos, que fica ao lado da “Vidrão”, não foi diferente, bem como para a comerciante Kênia Teles, da Papelaria Comunicação, do outro lado da rua.

Para os comerciantes Romero de Castro e Rui de Oliveira, não era necessário uma obra de tal porte para resolver o problema do congestionamento naquele ponto. “Só de tirar a praça, diminuiria o problema e gastaria muito menos dinheiro”, palpita Rui. “Com 20 milhões daria para matar fome de muita gente”, complementa Romero. Para os dois, a obra teve mais interesses políticos do que benefícios para o transporte. No entanto, o secretário de obras Alfredo Soubihe Neto nega interesses políticos: “Eu entreguei o viaduto não foi para fazer política, foi para melhorar o pouquinho que eu tinha piorado”, diz o secretário.


Segundo Romero, houve uma organização dos comerciantes no início, mas foi superficial e logo se desintegrou por medo de retaliações e fiscalizações intensas. “Deviam ter conversado com a gente, proposto o melhor, como indenizar os custos e diminuir impostos”, diz o comerciante. Contudo, o secretário de obras diz que os comerciantes inicialmente foram contra porque teriam prejuízos durante a obra, mas desde que viram a “coisa acontecer”, eles não se manifestaram mais. “Eles não me apedrejaram até agora porque sabem que depois das obras terão muito mais lucro que antes, eles têm garantia de que vai melhorar”, consola Alfredo Souhibe Neto. Não é o que sente a comerciante Kênia, que crê no fato de que a T-63 ter se tornado trânsito de via rápida e por ter seu comércio no início do viaduto, perderá clientes. “Ninguém vai prestar atenção na minha loja, mas no viaduto, pois é perigoso não ser cuidadoso em via de trânsito rápido”, reclama a comerciante.


Alguns quilômetros abaixo dali, no viaduto Latiff Sebba, na Avenida 85, obra recente, Hélio Costa Netto, dono da Eletrocon, passou pela mesma situação que Rui, Romero e Kênia e até hoje sofre as conseqüências da obra. Por cinco meses esteve cercado de tapumes, suas vendas caíram 80%, perdendo funcionários, capital de giro e apoio. Depois da obra a situação não melhorou para o comerciante. Hélio, que está no ponto desde 1974, perdeu de 75% a 80% de seus clientes com a nova estrutura. “Perdi o fluxo da Avenida 85 e quem vai para avenida D, que passa em frente à loja, vem por um beco, que provoca congestionamento e é difícil de estacionar”. O comerciante lamenta a prefeitura não ter procedido devidamente com os comerciantes. “Deveriam ter feito como algumas obras em São Paulo: constar no edital o ressarcimento do custo operacional da firma feito pela construtora”. Hélio diz que os comerciantes, mesmo organizados, não conseguiram impedir a obra por se tratar de um bem público. No entanto, para ele, a obra não resolveu o problema efetivamente. “Com certeza deveria haver mudanças nesse ponto, mas não da forma que foi feita e com o alto custo. Daqui a três anos vai ter que mudar tudo isso de novo”. Enquanto isso, Hélio continua a arcar com a perda de clientes e com a desvalorização do terreno.

(continua)

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