22 dezembro, 2008

Para uma história do Viaduto da T-63 - 5 - Uma reportagem diferente - 2ª parte

O DESGOSTO DOS MORADORES

Subindo alguns quilômetros pela Avenida 85, de volta à região do viaduto-trincheira, o estudante e empresário de 20 anos, Mateus Vasconcellos, mora a um quarteirão da obra, na T-64, desde que nasceu. O morador do Alto do Bueno diz também não ter sido consultado por ninguém antes de procederem com a obra. “Ninguém da minha família foi consultado, nem do meu prédio, nem vizinhos, e conheço muita gente da vizinhança”. Porém, o secretário de obras alega que uma jornalista fez uma “pequena pesquisa”, e 80% apoiava a obra. Foi essa a consulta feita, além do estudo de impacto de vizinhança, segundo o secretário, contudo não houve nenhuma reunião com os moradores na região. Durante esses quatro meses, Mateus teve de sair bem mais cedo de casa para ir trabalhar e estudar, além dele e sua família terem sofrido com a poeira, com o congestionamento e com a poluição sonora. “Nem no domingo eu conseguia dormir com o trânsito na rua da minha casa”, reclama Mateus. Para ele, a obra vai resolver o problema do trânsito na região a curto prazo e o dinheiro poderia ter sido investido de outra forma. “Se investissem 20 milhões em transporte público, diminuiria a quantidade de carros. As pessoas andam de carro porque o transporte não é de qualidade, a maioria anda sozinha no carro”. Ele, como morador, não se diz beneficiado e acredita ter mais interesseS políticos do que públicos na obra.

Marianne Mota, estudante, 22 anos, também acredita ser uma obra mais política e não acredita, como Mateus, que resolverá o problema da região. “Foi apenas uma substituição de uma rótula por um viaduto, nem pistas a mais fizeram. Foi uma obra que só deixou a região mais bonita, nada mais.” Marianne também acredita que o problema é mais complexo e poderia ter sido resolvido de outra forma. “A população de Goiânia aumentou, mais pessoas foram morar em nossa região e não houve adaptações e essa não resolve. Metrôs ou rodízios poderiam funcionar melhor”. A moradora, como pedestre, também reclama da falta de faixa de pedestres no trecho do viaduto. “Essa obra privilegiou somente os carros”.

O administrador Flávio Henrique Veiga, 35, também morador da região, pensa como Marianne. “Trata-se de uma obra desconectada com um plano de mobilidade urbana para todo o município e privilegia apenas o automóvel. O ciclista, por exemplo, é impedido de trafegar no viaduto”, diz o morador. Além disso, para ele o viaduto não resolve o problema, uma vez que continuam a permitir a construção de empreendimentos na região, aumentando fluxo de veículos. O morador diz que a obra é oportunista e deveria ter sido impedida por não condizer com o plano diretor da cidade. Para ele, os 20 milhões dispensados na obra poderiam ter sido investidos em outras opções de transporte como ônibus, metrôs e bicicletas. “Fica claro que não existe um planejamento urbano para Goiânia que pense na qualidade de vida da população”, diz o morador. Mateus, Marianne e Flávio também acreditam que a obra trará impactos ambientais para região. Mateus e Marianne afirmam que haverá problemas de enchentes com as chuvas. Flávio pensa além, que o viaduto também trará maior poluição sonora e aumentará o microclima da região.

(continua)

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