Karla foi muito feliz no texto. Conseguiu expressar o sentimento de boa parte dos eleitores, diante dessa abundância de candidatos a vereador e suas propostas raquíticas.
Eleitores esses de classe média, na faixa dos 40 anos. Uma geração que se tornou adulta e viveu metade da sua vida num país estagnado. Gente que participou dos comícios das Diretas Já, em 84; das manifestações pelo impeachment de Collor, em 92; conheceu a inflacão de dois dígitos mensais; viu amigos e parentes irem embora do país em busca de oportunidades que não encontrou aqui.
Gente, enfim, que aprendeu a dar valor ao seu voto e que precisa se beliscar para acreditar que está mesmo assistindo a essa campanha.
Abaixo, o artigo, gentilmente cedido por Karla para ser publicado aqui:
Os meios e os fins
Você já definiu em quem vai votar para vereador? Convenhamos, não é tarefa fácil. Em Goiânia, são 566 candidatos e diversas coligações proporcionais envolvendo 27 partidos. Usar o partido como referência não dá, já que não há programas ou propostas que orientem o eleitor.
Karla Jaime Morais
As coligações no Brasil ocorrem de acordo com interesses circunstanciais, variam conforme o local e a época. Assim, vemos uma salada pouco esclarecedora, que requer esmiuçar bastidores em busca de alguma compreensão.
Um caminho possível é verificar quem é cada candidato, o que pensa, o que propõe – e essa tem sido uma tendência do eleitorado, individualizar a escolha, avaliar o perfil pessoal. Só que também aí a campanha da forma como vem sendo feita não ajuda. Todos recorrem a estratégias parecidas: distribuição de santinhos com imagens sob o efeito uniformizador do fotoshop, carro de som repetindo jingles insuportáveis, uma apresentação muito breve no horário eleitoral gratuito. Quem é quem de fato?
Um dos candidatos é uma pessoa que conheço, tem nível elevado de instrução, é um profissional de atuação elogiada em sua área, tem boas condições socioeconômicas que lhe permitem acesso a bens culturais. Dispõe de informações e recursos, tem demonstrado ética no trabalho, merece atenção. Pode ajudar a melhorar o desempenho na Câmara, nos últimos tempos marcada muito mais por denúncias de corrupção, escândalos, falta de quórum e projetos bizarros do que por discussões e propostas relevantes para a comunidade. E não faltam problemas em Goiânia.
Para meu espanto, esse candidato que parecia diferente faz campanha ao velho estilo: a mesma foto artificial, o mesmo jingle que desrespeita os ouvidos e a inteligência. Se para chegar lá é preciso se submeter a esses métodos de marketing, será que uma vez eleito vai agir diferente dos que já se deslumbraram com o poder? O eleitor precisa fazer um esforço para tirar máscaras, enxergar por trás dos disfarces. Uma vez eleitos, a conta é alta. Na semana passada, a Câmara de Goiânia aprovou projeto concedendo ao prefeito, vice-prefeito, secretários e aos próprios vereadores um acréscimo salarial de até 32,5% a partir de 2009.
Karla Jaime Morais é editora de Opinião.
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