17 janeiro, 2007

Avestruz Master - O preço da carne na boca do caixa

Preços da carne de avestruz, na loja marista dos Supermercados Marcos, na primeira semana de janeiro de 2007:
Cubos - embalagem com 250g - R$ 4,59 ( ou R$ 18,36kg)
Recortes de avestruz: R$ 3,99 kg
Preços de outras carnes, no mesmo dia(R$/kg):
Picanha Red Cut - 22,90
Picanha - 19,49
Cupim/coxão duro - 4,99 kg
Músculo bovino traseiro- 3,75
Frango - 3,49
Coxa/sobrecoxa de frango - 3,29
Ou seja, o preço dos cubos é aproxima-se ao da picanha, e o dos recortes é quase igual ao do músculo.
O preço dos cubos, bem abaixo dos R$ 60,00/kg anunciados pela empresa à época da comercialização das CPRs, está dentro do anunciado pelo então administrador da massa falida, Sérgio Crismpim, quando o Hipermoreira começou a comercializar a carne. Trecho de matéria de O Popular de 6 de setembro de 2006:
De acordo com Sérgio Crispim, é a primeira vez que se tem notícia no País de uma empresa que só começou a comercializar seus produtos após a decretação da falência. “Estamos vendendo pluma, carne e couro. O Judiciário está fazendo um milagre ao transformar uma empresa de mera especulação em um negócio. Mostra que a nova Lei de Falências é um instrumento importante, que interfere diretamente na vida das pessoas. É um avanço histórico do Direito brasileiro”, avalia Crispim.


Dois meses antes, à época dos primeiros abates, o advogado da empresa estimava um valor três vezes maior. Trecho de matéria do DM do dia 05.07.06:

Neilton Cruvinel reafirma que a Avestruz Master é uma empresa viável, altamente rentável, e que só precisa continuar operando para fazer receita, se manter e dar lucro, ou seja, dividendos para os investidores/acionistas. Em atividade há cerca de 40 dias, o frigorífico estava fazendo abates em forma experimental com cerca de 85 aves/dia até a interdição. Na última sexta-feira, porém, foram abatidos 50 animais que foram devidamente embalados na segunda-feira e estão prontos para ser comercializados. A expectativa é de que o quilo da carne de avestruz chegue ao mercado custando R$ 45,00. A embalagem de 250 g que deverá chegar aos supermercados Carrefour na próxima semana terá custo aproximado de R$ 12,50. Neilton diz que a empresa já tem contrato de venda do produto com o Carrefour e Pão de Açúcar. Já estão em andamento os contratos com o Wal-Mart e o Bom Preço. A meta é poder elevar a quantidade de aves abatidas para atender à demanda. “No ritmo que está levaremos 45 dias só para atender aos dois primeiros contratos.”
Além do preço significativamente menor, os cubos à venda no Marcos foram embalados no dia 04.07.06, dia anterior à matéria do DM, ou seja, ainda são dos primeiros abates efetuados, sugerindo que não há um consumo tão grande assim, mesmo a um preço muito inferior ao originalmente esperado. Os recortes são de abates mais recentes, trazendo a data de embalagem de 30.10.06.
Se o preço anunciado quando a empresa operava era R$ 60,00 kg e mesmo a 1/3 desse valor parece não haver grande saída, havia sobrevalorização do preço da carne ( no caso dos recortes, o preço é 15 vezes menor). Além disso, nunca houve venda de carne antes da falência. Tudo lembrando um esquema Ponzi. Compare com um trecho do texto em que descrevi as características desse tipo de fraude:
No sentido real de tomar emprestado de Pedro para pagar a Paulo, os esquemas Ponzi são uma simples fraude onde os investidores iniciais recebem dividendos excepcionais em forma de juros pagos com os depósitos de um número crescente de novos investidores.
Os “lucros” dos investidores não são criados pelo sucesso do negócio de risco mas são fraudulentamente desviados das contribuições em capital de outros investidores.
Algumas pessoas investem no esquema e , a seguir, quando a notícia da oferta se espalha, mais investidores são atraídos. Normalmente não há um investimento real envolvido, ao contrário do que se pensa, mas apenas dinheiro sendo transferido de novos investidores para os mais antigos.O colapso dos esquemas Ponzi ocorre porque o ativo sobre o qual o investimento era baseado ou nunca existiu ou era grosseiramente sobrevalorizado.

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