30 maio, 2006

De raios e avestruzes -1

Passou batida a temporada do Filme Enron – Os mais espertos da sala, no Cine Lumière. Não devia. Enfocando a maior fraude já perpetrada no mundo corporativo americano, o filme é uma ótima referência para nossas avestruzes.

É pena, pois foi na semana passada que os dois principais executivos da companhia energética, Kenneth Lay e Jeffrey Skilling foram considerados culpados por um júri popular e devem receber penas de 20 a 30 anos de prisão. O popular deu a notícia da Agência Estado, no caderno de Economia, mas não a ligou ao filme que estava no Magazine.


A Avestruz Master é a nossa Enron. Basta comparar seus números com os da CELG, maior empresa do estado: a dívida da Avestruz seria de R$ 1,342 bilhão (R$1,7 bilhão em avestruzes vendidas menos R$ 358 milhões em ativo), segundo o noticiário do fim do ano passado. Isso é 9,1% mais que o patrimônio líquido da CELG, de R$ 1,230 bilhão e equivale a 86% da receita líquida da mesma em 2005, de R$ 1,556 bilhão.

Informações interessantes e contrastantes trazidas pelo filme:

1) Com a fraude descoberta as ações da empresa viraram pó. Definido o encerramento das atividades, seus empregados tiveram 30 minutos para deixar seus locais de trabalho;

2) A empresa faliu, mas seus principais executivos venderam suas ações antes, ficando milionários. Skilling pagou a seus advogados U$ 23 milhões - R$ 52,9 milhões à cotação de R$ 2,30,ou, considerando uma sobrevalorização do real de 40%, R$ 74 milhões. Ainda assim 38 % menos do que a Avestruz se comprometeu a pagar aos seus. E por falar nisso, existem outras causas no Brasil com esse valor?

3) A empresa influenciou pesadamente em decisões políticas e contribuiu para campanhas. Em especial, foi determinante na queda do governador democrata da Califórnia e ascensão do Exterminador ao cargo, com os apagões que provocou para aumentar o custo da energia, causando enormes perdas para o estado;

4) Houve uma falha total nos sistemas de controle e proteção aos investidores, funcionários e à coletividade. Os investidores perderam todo seu dinheiro, os funcionários suas aposentadorias, o Estado da Califórnia bilhões de dólares, e sua população sofreu com os cortes de energia. A empresa alegava ter criado um sistema extremamente complexo que lhe permitia lucros enormes. Seu slogan “Pergunte Por quê?” intimidava até executivos egressos das melhores escolas americanas e evitava críticas. O negócio, na verdade era contabilizar lucros futuros como realizados e esconder os prejuízos em subsidiárias. Basicamente, contar com o ovo na galinha e varrer a sujeira para debaixo do tapete.

5) A imprensa americana ficou passiva diante da empresa por muito tempo. Idem a daqui com as avestruzes. Lá, a coisa revestia-se de sofisticação, mas aqui a operação era muito simples. Como chegou onde chegou, com uma dívida do tamanho da CELG?

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