16 janeiro, 2008

O (a) TeNPO redescoberto(a) – Anatomia de um evento – 2 – Os Cachês

Espetáculos locais

Um elogio que não pode deixar de ser feito é quanto ao valor justo pago aos espetáculos de Goiás: R$ 4 mil para os 9 selecionados – aproximadamente o dobro do usualmente pago - e R$ 1 mil para as 4 cenas curtas.

Por outro lado, a existência de um segundo intermediário, a empresa Hunica, forçosamente implicou em mais comissões que oneraram esse valor (não consegui levantar de quanto foi o desconto).

Espetáculos “nacionais”

Os cachês pagos aos grupos e artistas com projeção nacional , através da empresa Cia de Sucessos, variaram entre R$ 54 e R$ 59 mil, aproximadamente (veja texto anterior). Não há referência aos gastos com transporte até Goiânia, mas como são equipes pequenas, suponho que possa se considerar que, descontadas estas, o cachê tenha sido ficado em R$ 50 mil.

São valores únicos dentro do contexto do teatro brasileiro, porque o (a) TeNPO é o único evento do gênero a ter seu foco e orçamento concentrados em espetáculos de artistas ligados à televisão, ao contrário dos mais importantes festivais de teatro existentes, que priorizam o teatro de grupo. Nestes, os cachês nem passam perto desses valores. Dentre os maiores cachês pagos pelo Goiânia em Cena, por exemplo, à época, estavam os da Armazém Cia de Teatro (R$ 7 mil) e do Grupo Galpão (R$ 10 mil ), em 2003, e da Cia dos Atores (R$ 10,5 mil), em 2004. Ainda que consideremos, o dobro desses valores, para usar a mesma proporção dos cachês dos grupos de Goiás, e considerando que também não incluíam transporte, ficaríamos no máximo em R$ 20 mil.

Um caso extraordinário

Há no entanto, um caso que chama a atenção: o da Cia Caixa Preta, cujo cachê foi de R$ 39 mil, aproximadamente. Em comum com os demais espetáculos “nacionais”, somente o alto cachê e a origem do grupo ser o Rio de Janeiro. O elenco, alem de ser enorme (uma equipe de 15 pessoas) não incluía nenhum grande nome televisivo e a apresentação foi no Centro Cultural (com platéia menor) , e não no circo.

Indagada sobre os critérios para escolha deste espetáculo, a Agepel respondeu que “usou sempre como critério para seleção dos espetáculos convidados para o evento, as suas, (sic) notoriedade pública, condições técnicas adaptáveis ao local, assim como engajamento com o objetivo do referido projeto. Especificamente falando do espetáculo Era Uma Vez, da Cia Caixa Preta, informamos que sua indicação foi feita pelo notório diretor Gutti Fraga, que conosco ministrou a Oficina de Direção na 3o (sic) Edição do TENPO, sendo o mesmo, (sic) aceito pela diretoria e presidência da AGEPEL e tendo como definição de seu cachê o valor estipulado pela Cia de Teatro responsável pelo mesmo, em concordância com a planilha orçamentária desta Agência para realização do evento”.

No processo arquivado na Agepel, a documentação apresentada pelo grupo para a dispensa de licitação registra ser o mesmo integrado por formandos da escola do SATED (Sindicato dos Artistas) , sediada no Espaço Amadeu Celestino, na Casa dos Artistas, cujo diretor vem a ser o mesmo Gutti Fraga. Além disso, a comprovação de notoriedade pública não e feita pelo usual recorte de jornal, mas pela impressão de uma página de fotolog onde um ator faz referência ao nome do diretor da peça , sem qualquer menção ao grupo ou ao espetáculo.

Em termos de cachê, ainda que se estime, por alto, em R$ 15 mil o custo do transporte aéreo de 15 pessoas do Rio a Goiânia, restariam R$ 24 mil de cachê, mais que o dobro dos grandes grupos nacionais no Goiânia em Cena e 6 vezes o dos grupos locais.

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