Imperdível a avaliação do jornalista Mauro Santayana sobre a relação entre mídia e democracia no Brasil, em entrevista a Paulo Henrique Amorim. Santayana foi exilado pelo regime de 64, atuando como correspondente do Jornal do Brasil na Europa entre 68 e 73, depois foi colaborador de Tancredo Neves:
... o que eu queria dizer sobre a mídia é o seguinte: outro dia eu disse a uns companheiros nossos que me entrevistaram para um programa para a TV do Senado, eu disse que o que aconteceu com a mídia é que a mídia perdeu o sentimento de solidariedade com o povo. No meu tempo os jornais eram solidários com o povo brasileiro. Hoje os jornais são solidários com os banqueiros brasileiros. A verdade é essa. Não são só os jornais não. Eu vou ser mais duro: são os jornalistas. Poucos jornalistas conseguem manter um sentimento de solidariedade com o povo brasileiro. Eu tenho as minhas teorias sobre isso mas nem quero colocá-las porque são muito polêmicas. Eu acho que o governo militar resolveu que o jornalismo estaria reservado, seria uma reserva de mercado para a classe média, não queriam outros sujeitos lá não, não queriam pessoas de extração mais baixa no jornalismo. Então, aí nós temos o seguinte: não há mais solidariedade com o povo. E você nota o seguinte: não há solidariedade dentro dos jornais, os jornalistas hoje vivem brigando uns com os outros. No meu tempo não era assim, no meu tempo nós tínhamos um sentimento de solidariedade e de camaradagem dentro dos jornais que era exemplar. Hoje você não tem mais isso. Se bem que também houvesse muito canalha no meu tempo. Nós tínhamos aí o senhor David Nasser da vida e outros. Mas geralmente, no conjunto da maioria, nós tínhamos o sentimento de solidariedade com o povo. Se nós perdemos o sentimento de solidariedade com o povo, como é que nós vamos ter um sentimento democrático?
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil e da Agência Carta Maior.
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