Tenho procurado nesta série de textos mostrar as limitações da lista divulgada pela Agepel para uma avaliação das contratações de artistas feitas pela agência, por trazer uma mera relação nominal de artistas contratados nos eventos promovidos pela Agência, sem especificação de valores nem forma de contratação.
No primeiro texto, mostrei que há uma grande discrepância nos valores pagos aos diferentes artistas dentro de um mesmo evento; no segundo, que diferentes edições do mesmo evento pagam valores muito diversos ao mesmo artista.
Há ainda um outro aspecto: as diferenças enormes nos valores pagos aos artistas em eventos diferentes.
Um bom exemplo, em relação ao Fica, usado nos textos anteriores, é o Projeto Um Gosto de Sol, que recentemente divulgou seus 36 selecionados para este ano.
A programação do projeto é montada com duas atrações por domingo: um espetáculo mais curto de abertura, normalmente de teatro ou dança, e uma atração principal musical. Uma das conseqüências é que como teatro e dança têm necessidades de iluminação diferentes da música, mas toda a estrutura é montada em função desta, isso normalmente resulta em prejuízo à qualidade das apresentações daquelas.
Registre-se que o meio teatral nunca entendeu essa discriminação, que trata o teatro como arte secundária, mero complemento para a música, mesmo com bons espetáculos que poderiam ser atração principal, adequados às condições técnicas oferecidas e ao público do projeto.
Isso foi registrado oficialmente num dos tópicos do documento final da I Conferência Estadual de Teatro, realizada em 1º de maio de 2004, e encaminhado ao Presidente da Agepel em julho do mesmo ano. Reivindicava-se três mudanças no projeto :
- Que a seleção passe a ser feita mediante edital, divulgando os cachês a serem pagos;
- Que se contrate espetáculos teatrais completos, que ocupem toda a programação, e não apenas performances para abertura de espetáculos musicais;
- Que sejam dadas condições técnicas adequadas aos espetáculos apresentados;
- Que se contrate espetáculos teatrais completos, que ocupem toda a programação, e não apenas performances para abertura de espetáculos musicais;
- Que sejam dadas condições técnicas adequadas aos espetáculos apresentados;
Embora nunca tenha respondido ao documento, a Agepel parece ter se sensibilizado quanto ao primeiro item, fazendo um processo de inscrição público neste ano, embora mantendo a seleção a seu cargo e sem divulgação dos cachês. Quanto ao último, depende de mera orientação à equipe técnica, esperando-se que seja contemplado. Sobre o status do teatro na programação, inalterado.
Mas voltemos à questão inicial, sobre a diferença nos valores dos cachês do Um gosto de Sol e do Fica. Com o início da execução do projeto em agosto, foi também divulgado o valor dos cachês: R$ 600,00 para as atrações de abertura e R$ 1.300,00 para os shows musicais. O cachê mais baixo pago a atrações musicais no VIII Fica ( que foi o mesmo pago aos espetáculos teatrais), foi de R$ 2.000,00 , sendo que a maioria dos shows foi remunerada em R$ 5.000,00, valores respectivamente 54% e 284% maiores que o do Um Gosto de Sol.
Assim, a aparição de um músico na lista da Agepel , no Fica, equivale a entre 1,5 e quase quatro vezes essa mesma aparição no Um Gosto de Sol. No caso de artistas de teatro que eventualmente tivessem participado de ambos, a diferença seria de 233%, ou seja, o cachê do Fica teria sido quase três vezes e meia maior (lembrando que a duração dos espetáculos apresentados nos dois projetos é diferente).
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