11 outubro, 2006

Teatro Goianiense em destaque no Magazine

Não tenho conseguido dedicar-me ao blog tanto quanto gostaria. Há vários assuntos que, por falta de tempo, tenho deixado para mais adiante, na esperança de achar um horário para tratar deles futuramente.

Um exemplo é a reportagem de capa do Magazine, de O Popular, do dia 24 de setembro, sobre o teatro em Goiânia. No momento, me é impossível comentá-la com profundidade, mas não posso deixar de dizer algo.

Antes de mais nada, é sempre muito bom ver o teatro local ser objeto de uma matéria ampla, ainda mais na edição de domingo. Recordo-me de uma única outra vez em que isso aconteceu, em 11 de janeiro de 2004, a próposito da formatura da primeira turma do curso de Artes Cênicas da UFG - há dois anos e meio, portanto.

Registro, por ora, que há uma enorme diferença no tom das duas matérias, a despeito da situação do teatro não ter mudado substancialmente nesse período: a mais recente deixa uma impressão muito otimista , carregando nos tons róseos, a despeito de trazer alguns problemas enfrentados pelo setor. Já a de 2004 pareceu-me mais fiel às enormes dificuldades com que se defronta quem trabalha com arte, em especial o teatro, em Goiânia.

Fui entrevistado nas duas ocasiões, a propósito do Fórum Permanente de Teatro de Goiás, de que fui um dos fundadores e que representei junto à Agepel. Talvez pela inatividade atual do fórum, desta vez minhas respostas não foram incluídas na matéria. Reproduzo-as abaixo, junto às perguntas feitas, na esperança de fomentar aqui uma discussão:
[ antes das respostas, esclareci que desde o início deste ano estou afastado do dia-a-dia do Zabriskie. As remissões entre colchetes não constavam das respostas.]

[Fale] sobre a atuação do Fórum Permanente de Teatro e a participação do Zabriskie no projeto Redemoinho? De que forma o Fórum contribui para melhorar a qualidade das produções e a montagem de peças?

O Fórum Permanente de Teatro era, como o próprio nome indicava, um espaço de discussão, de reunião e busca por políticas públicas para o teatro, decididas de forma coletiva e democrática. Nesse sentido, não tinha sede, nem personalidade jurídica. Desenvolveu e realizou, junto à Agepel, duas ações: o Circuito Agepel de Teatro e o I Seminário de Artes Cênicas de Goiás. O circuito pretendia democratizar o acesso ao teatro e formar novas platéias, incorporando novas cidades ao circuito do teatro investigativo , muito concentrado em Goiânia. O seminário pretendia fomentar a busca por uma politica pública consistente e orgânica, a partir da experiência da Lei de Fomento ao Teatro, de São Paulo. A dificuldade e o desgaste em estabelecer um diálogo como o poder público, tanto municipal quanto estadual terminou por cansar e desmobilizar as pessoas e desde fins de 2004 o fórum persiste basicamente como um grupo de discussão na internet, com cerca de cem associados. Desde então, a FETEG tem representado o setor nas discussões com o setor público. Com uma mudança feita em seu estatuto, no ano passado, espera-se que cada vez mais próxima dos associados e expressando sua vontade coletiva [falei sobre isso no texto Bravo II]. Alguns dos participantes passaram a freqüentar o Fórum Permanente de Cultura. Eu, particularmente, desde julho de 2005 publico o blog Entreatos
onde discuto, em especial, as ações na área de cultura.

O redemoinho, Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral, foi criado num encontro promovido pelo Grupo Galpão, em 2004. Em 2005 fez seu segundo encontro, com a participação de 70 grupos de todo o país. Ainda estamos buscando um concerto entre a diversidade cultural e política que representam. Mas tem sido muito interessante o contato com toda essa variedade de tipos e propostas. Fernando Mencarelli, professor de teatro na UFMG e assessor pedagógico do Galpão Cine-Horto, expressou muito bem o que foi feito até agora : "A aposta nos grupos e nas formas coletivadas de criação, o reconhecimento da necessidade de espaços autônomos para o desenvolvimento de um trabalho contínuo e a constatação de que estes grupos e espaços culturais espalhados pelo país têm gerado uma ação cultural de interesse público motivaram a criação da Rede e têm orientado seus primeiros passos."


Acha que a política da Agepel e da SeCult para o teatro (Prêmio Agepel, Tenpo em Porangatu, Goiânia em Cena e Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro) é satisfatória? O que é preciso fazer para elevar o nível dos trabalhos?

Não existe uma política, enquanto um conjunto organizado de ações, sistematizadas, previamente planejadas e com objetivo definido. São ações fragmentadas, cujo única razão de ser é dar visibilidade à administração pública [escrevi sobre isso o texto Bravo! ], implantadas de cima para baixo, com total desprezo pela opinião dos artistas, e em alguns casos, pela própria lei.

Para elevar o nível dos trabalhos ainda mais, é preciso fundamentalmente a organização coletiva dos grupos para buscarem essa política, onde o norte seja um teatro vigoroso e de alta qualidade. Fundamentalmente, é essencial romper com a cultura do favorecimento pessoal em detrimento do mérito, tendo clareza que aqueles que se identificam e beneficiam dessa prática são o inimigo. No balcão dos favorecidos, persistência, consistência, coerência e qualidade não valem nada.

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