11 fevereiro, 2006

Bis para os que perderam

Reproduzo abaixo correspondência publicada na seção "Cartas dos Leitores", de O Popular, no dia 05/02/06. O texto é imperdível e levanta questões fundamentais sobre política cultural. Entre elas, a condição atual de nosso meio cultural, o que constitui de fato arte e a necessidade de verificação do que é afirmado no lançamento ou divulgação de qualquer obra.


Azulejaria portuguesa

Contemplo o caminhar decadente de nosso meio cultural, que, entre outras coisas, faz surgir obras como essa do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, sem técnica nem criatividade, elementos essenciais a uma obra de arte. Sucumbiu a interesses de um idealizador, autor da idéia, que impõe as cenas mostradas como uma colcha de retalhos e ainda se faz retratar em um rol de retratos medonhos, enaltecendo “grandes personagens” de nossa história.

Isso me faz lembrar aquelas obras surgidas nos regimes totalitários a serviço de interesses políticos, com a diferença que possuíam apuro técnico.

Os autores dizem todo o tempo que sua técnica é azulejaria portuguesa. Será para valorizar seu trabalho? O que fazem, na verdade, inclusive em outro painel que vi também no IHGG, é uma transposição de fotos decalcadas e queimadas sobre os azulejos, que sofrem depois alguns retoques, em um trabalho meramente artesanal.

Isso não é e nunca foi azulejaria portuguesa, até porque à época dos famosos azulejos portugueses não existiam fotografias. Como têm coragem de tornar público que uma obra destas custou R$ 152 mil e foi patrocinada pela Lei Goiazes de Incentivo à Cultura?

Na matéria se afirma que só o levantamento fotográfico feito pelos autores dava para compor um livro, mas eles preferiram “imprimir” em azulejaria as fotos. Arte não é levantamento fotográfico. Poderiam ter preferido compor um livro.

Wilson JorgeArquiteto/Artista plástico

Um comentário:

  1. A carta do arquiteto Wilson Jorge, que é também artista plástico e embora não tenha colocado aqui, é um dos arquitetos que possuem qualificação na área de restaução de patrimônio cultural edificado trata do grande problema dessa terra. A falta de conhecimento de técnicas artísticas, por parte dos gestores de instituições culturais, e que possuem uma enorme capacidade de manifestar-se em público baseados apenas na especulação ou no "achismo".Associado a isso, jornalistas "despreparados" e que dão credibilidade em tudo que qualquer ocupante de cargo de direção lhes diz. Assim se tornam incapazes de exercer um minímo de crítica, incapazes por que desconhecem o assunto que estão tratando. Então algumas questões devem ser levantadas:
    1 - Ocupante de cargo de direção é o mais qualificado para falar de assuntos especializados em GO?
    Resposta: NÃO.
    2 - As fontes de pesquisas existentes são inadequadas ou dificeis de serem localizadas?
    Resposta: Não
    2- Então por que os jornais continuam a publicar "asneiras" e mais "asneiras" quando o assunto é arte? Ou restauro?
    Resposta:Por que papel aceita tudo e espera-se que ninguém se dê ao trabalho de questionar. Ou quem sabe, o ideal é continuar cultivando a ignorância e a desinformação geral?
    Parabéns Wilson Jorge!

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